sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sempre Fica Perfume Nas Mãos Que Oferecem Rosas- História contada por Vovó Benta

Por Mãe Leni W. Saviscki

Dirigente do Templo de Umbanda Vozes de Aruanda

(Terreiro Filiado ao Centro Espiritualista Caboclo Pery - CECP)

A noite se fazia linda...A lua cheia, tal qual noiva entrando na igreja, espalhava seu véu branco por sobre as Campinas, as pradarias e dava brilho especial aquele jardim florido onde as gérberas e adálias bailavam ao sabor da brisa. Pétalas orvalhadas brilhavam a luz do luar, fazendo do roseiral um manancial de energias que exalavam, enchendo o ar com seu perfume.

Espremendo-se pelas frestas do rancho, o cheiro do jardim entrava e coçava o nariz da negrinha, fazendo-a espirrar...e acordar. Era apenas um pretexto que Preta Rosa usava para se fazer ver, mesmo estando em corpo fluídico. Sorrindo, com seus alvos dentes que contrastavam na pele negra, e exibindo uma rosa atrás da orelha, o espírito amigo soprava na testa da negrinha, fazendo-a dormir novamente, para que nessa brincadeira de esconde-esconde, pudesse tirá-la do corpo físico e novamente juntas, voarem ao sabor do vento em busca de outros tantos espíritos, para que pudessem servir em qualquer paragem, sempre em nome do grande Zambi.

Era rotineiro esse procedimento e Preta Rosa ficava muito feliz em poder contar com a preciosa ajuda da negrinha que no corpo físico era paraplégica, mas que sabia voar quando saía dele. O jardim bem cuidado que ladeava o rancho humilde, auxiliava a descida das boas energias e seguidamente era ali, naquele jardim florido, que a espiritualidade se abastecia das energias florais e curativas de que precisavam nos trabalhos de cura.

Preta Rosa, antes de chamar a negrinha, sempre abastecia sua cesta, com as flores que gostava de espalhar no caminho por onde andava. Flores que existiam além da matéria, naquele manancial sagrado.

A negrinha, quando menina foi duramente castigada pelo feitor, fruto das peraltices naturais da infância, mas que não eram admitidas nas crianças negras. Ferida duramente ao final das costas, paralisou as pernas e nunca mais caminhou. Mas para comer era obrigada a trabalhar, então arrastava-se sob o efeito de dor quase insuportável, para cumprir tarefas que Sinhá lhe ordenava. Passava o dia a esfregar o chão da casa grande e quando a noite chegava, seu corpinho magrela amortecia de cansaço.

Preta Rosa, em encarnação anterior, havia sido sua madrinha e guardava pela negrinha um afeto muito especial. Sabia que a dura pena a que foi submetida nesta vida era, na verdade, um aprendizado ao seu espírito endurecido no orgulho e na teimosia, como sabia também que na próxima encarnação a negrinha viria de pele branca e serviria para manifestá-la junto aos homens da terra. Espíritos afins, uma vivenciando ainda os aprendizados da carne, outra evoluindo no mundo astral, são guerreiras de Zambi e em noites de luar, pelos céus deste Brasil, espalham rosas e perfumes por onde passam, cantarolando os versos que Preta Rosa gosta de fazer.

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