quinta-feira, 31 de março de 2011

Zé Pelintra - Mistérios e Caminhos de Um Espírito de Luz!



 Zé Pelintra - Um Espírito de Luz a Serviço da Caridade.


Seu Zé Pelintra,Mestre da Jurema e muito conhecido por sua atuação junto ao Catimbó,ele é tratado e conhecido como Mestre,e por ser uma entidade diferente das que são cultuadas na Umbanda,ele não trabalha numa Linha específica,porém,sua participação mais ativa seria na Gira de Baianos,Exús e,em raros casos,Pretos Velhos.Seu Zé pode aparecer,portanto,em qualquer Gira,desde que seu trabalho seja realmente necessário.
Apesar de sua manifestação trazer um arquétipo ligado a um espírito "Boêmio","Malandro" e brincalhão,ele trabalha com seriedade e mesmo com a fama que possui,de beberrão,não é bem assim que as coisas funcionam.
Seu Zé cobra muito de seus médiuns,cobra por seriedade,responsabilidade e por outras virtudes é o primeiro guia que se afasta do médium quando este não segue seus conselhos e não adota boa moral e conduta pragada por ele,ou seja:
Um filho ou filha de Seu Zé "deve ser honesto,trabalhar com firmeza para o bem,para a caridade,não pode ser adúltero,beberrão,pois ele não admite isso de seu médium e afilhados.
Muitos confundem,pois acreditam que a imagem de boemia,de adúltério,de noitadas e jogos,seja o que ele foi ou seja de verdade,ledo engano,são energias e vibrações utilizadas,por um espírito,para criar uma identidade que facilite a ajuda e o amparo as pessoas que o procuram e nesta apresentação e arquétipo ele facilita sua atuação e aproximação as pessoas que irão até ele pedir sua ajuda e amparo.
Na Direita ele vem na Linha de Baianos e Pretos Velhos,fuma cigarro de palha,bebe batida de côco,pinga coquinho,cachaça ou simplesmente cerveja,sempre com sua tradicional vestimenta.Calça branca,sapato branco(ou branco e vermellho),seu terno branco,sua gravata vermelha,seu chapéu branco com fita vermelha ou chapéu de palha e finalmente sua bengala.E ainda podendo dar preferência de trabalhar com os pés no chão característica de suas atuações dentro dos Templos de Umbanda.

Ele é de ser muito brincalhão,gosta muito de dançar,gosta muito da presença de mulheres,gosta de elogiá-las,protegê-las e ampará-las em suas dificuldades emocionais,um verdadeiro cavalheiro e amigo.

Agora quando ele vira para o lado esquerdo,a situação muda um pouco,em alguns Terreiros ele pede outra roupa,um terno preto,calças e sapatos também pretos,gravata vermelho e uma cartola,fuma charutos e bebe marafo(pinga),conhaque e Wísque,até muda um pouco sua voz.

Seu Zé é a única entidade da Umbanda que é aceita em dois rituais diferentes e opostos:a "Linha das Almas"(Caboclos e Pretos Velhos)e o ritual do"Povo da Rua"(Exús e Pomba Giras).

A Umbanda de Zé Pelintra é voltada para a pratica da caridade - fora da caridade não há salvação - ,tanto espiritual quanto material - ajuda entre irmãos - propagando que o respeito ao ser humano é a base fundamental para o progresso de qualquer sociedade.

Zé Pelintra também prega a tolêrancia religiosa,sem a qual o homem viverá constantemente em guerras.Para Zé Pelintra,todas as religiões são boas,e o príncipio dela é fazer o homem se tornar espiritualizado,se aproximando cada vez mais dos valores reais,que são Deus e as obras espirituais.

Na humildade que lhe é peculiar,Zé Pelintra,afirma que todos são sempre aprendizes,mesmo que estejam em graus involutórios superiores,pois quem sabe mais,deve ensinar a quem não aprendeu e compreender aquele que não consegue saber.

A gira de Zé Pelintra é muito alegre e com excelente vibração e também disciplina é o que não falta.Sempre Zé Pelintra procura trabalhar com seus camaradas,e ás vezes,por ser muito festeiro,gosta de uma roda de amigos para conversar,e ensinar o que traz o Astral.Zé Pelintra atende a todos sem distinção,seja pobre ou rico,branco ou negro,idoso ou jovem.Seu Zé Pelintra tem várias estórias da sua vida,desde a Lapa do Rio de Janeiro até o Nordeste.

Zé Pelintra prega o amaparo aos idosos e as crianças desamparadas por esse mundo de meu Deus.Se você ajudar com pelo menos um sorriso, a um desamparado,estará,não importa sua religião ou credo,fazendo com que Deus também sorria e que o Amor Fraterno triunfe sobre o egoísmo.

Zé Pelintra pede que os filhos de fé achem uma creche ou um asilo e ajudem no que puder as pessoas e crianças jogadas ao descaso.Não devemos esquecer que a Fé sem as obras boas é morta.

Salve Seu Zé Pelintra!

SETE CAMINHOS EU ANDEI.CHEGUEI.
SETE PERIGOS PASSEI.PASSOU.
SETE DEMANDAS VENCI.CONQUISTEI.
SETE VEZES TENTARAM ME DERRUBAR.MAS EM PÉ FIQUEI.
SETE FORÇAS MEU PAI OGUM ME DEU PRA LEVANTAR E VENCER.MERECI E AGRADECI.
LUTE POR AQUILO QUE QUER.
ERGA SUA CABEÇA.
ACREDITE.
CONFIE.
TENHA FÉ.

DEUS SALVE ZÉ PELINTRA!
DEUS SALVE ZÉ PELINTRA DAS ESTRADAS!
DEUS SALVE ZÉ PELINTRA DAS ALMAS!

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Zé Pelintra e a Linha dos Malandros.




Os malandros têm como principal característica de identificação, a malandragem, o amor pela noite, pela música, pelo jogo, pela boemia e uma atração pelas mulheres(principalmente pelas prostitutas, mulheres da noite, etc…). Isso quer dizer que em vários lugares de culturas e características regionais completamente diferentes, sempre haverá um malandro. O malandro de Pernambuco, dança côco, xaxado, passa a noite inteira no forró; no Rio de Janeiro ele vive na Lapa, gosta de samba e passa suas noites na gafieira. Atitudes regionais bem diferentes, mas que marcam exatamente a figura do malandro.

No Rio de Janeiro aproximou-se do arquétipo do antigo malandro da Lapa, contado em histórias, músicas e peças de teatro. Alguns quando se manifestam se vestem a caráter. Terno e gravata brancos. Mas a maioria, gosta mesmo é de roupas leves, camisas de seda, e justificam o gosto lembrando que: “a seda, a navalha não corta”. Navalha esta que levavam no bolso, e quando brigavam, jogavam capoeira (rabos-de-arraia, pernadas), às vezes arrancavam os sapatos e prendiam a navalha entre os dedos do pé, visando atingir o inimigo. Bebem de tudo, da Cachaça ao Whisky, fumam na maioria das vezes cigarros, mas utilizam também o charuto. São cordiais, alegres, dançam a maior parte do tempo quando se apresentam, usam chapéus ao estilo Panamá.

Podem se envolver com qualquer tipo de assunto e têm capacidade espiritual bastante elevada para resolvê-los, podem curar, desamarrar, desmanchar, como podem proteger e abrir caminhos. Têm sempre grandes amigos entre os que os vão visitar em suas sessões ou festas.

Existem também as manifestações femininas da malandragem, Maria Navalha é um bom exemplo. Manifesta-se como características semelhantes aos malandros, dança, samba, bebe e fuma da mesma maneira. Apesar do aspecto, demonstram sempre muita feminilidade, são vaidosas, gostam de presentes bonitos, de flores principalmente vermelhas e vestem-se sempre muito bem.

Ainda que tratado muitas vezes como Exu, os Malandros não são Exus. Essa idéia existe porque quando não são homenageados em festas ou sessões particulares, manifestam-se tranqüilamente nas sessões de Exu e parecem um deles. Os Malandros são espíritos em evolução, que após um determinado tempo podem (caso o desejem) se tornarem Exus. Mas, desde o início trabalham dentro da linha dos Exus.

Pode-se notar o apelo popular e a simplicidade das palavras e dos termos com os quais são compostos os pontos e cantigas dessas entidades. Assim é o malandro, simples, amigo, leal, verdadeiro. Se você pensa que pode enganá-lo, ele o desmascara sem a menor cerimônia na frente de todos. Apesar da figura do malandro, do jogador, do arruaceiro, detesta que façam mal ou enganem aos mais fracos. Salve a Malandragem!

Na Umbanda o malandro vem na linha dos Exus, com sua tradicional vestimenta: Calça Branca, sapato branco(ou branco e vermelho), seu terno branco, sua gravata vermelha, seu chapéu branco com uma fita vermelha ou chapéu de palha e finalmente sua bengala.

Gosta muito de ser agradado com presentes, festas, ter sua roupa completa, é muito vaidoso, tem duas características marcantes:

Uma é de ser muito brincalhão, gosta muito de dançar, gosta muito da presença de mulheres, gosta de elogiá-las ,etc…

Outra é ficar mais sério, parado num canto assim como sua imagem, gosta de observar o movimento ao seu redor mas sem perder suas características.

Às vezes muda um pouco, pede uma outra roupa, um terno preto, calças e sapatos também pretos, gravata vermelha e às vezes até cartola. Em alguns terreiros ele usa até uma capa preta.

E outra característica dele é continuar com a mesma roupa da direita, com um sapato de cor diferente, fuma cigarros, cigarilhas ou até charutos, bebe batidas, pinga de coquinho, marafo, conhaque e uísque, rabo-de-galo; é sempre muito brincalhão, extrovertido.

Seu ponto de força é na subida de morros, esquinas, encruzilhadas e até em cemitérios, pois ele trabalha muito com as almas, assim como é de característica na linha dos pretos velhos e exus. Sua imagem costuma ficar na porta de entrada dos terreiros, pois ele também toma conta das portas, das entradas, etc…

É muito conhecido por sua irreverência, suas guias podem ser de vários tipos, desde coquinhos com olho de Exu, até vermelho e preto, vermelho e branco ou preto e branco.


O Zé que conhecemos, foi introduzido na Umbanda a partir do catimbó, culto praticado no Nordeste brasileiro, que se apóia bastante na religião católica, apesar de guardar um pouco das praticas pagãs, vindas da bruxaria européia. Ela pode se parecer um pouco com a Umbanda, mas, tem um pouco com o Candomblé. A semelhança com a Umbanda é devido ao trabalho com entidades incorporadas. Entretanto, os Mestres do Catimbó possuem uma teatralidade de incorporação muito típica e discreta que está longe do "trabalho de palco" umbandista. Neste cenário, Zé Pelintra é um dos mestres desse culto. Poucos sabem, mas o mesmo teve vida na Terra. Nascido em Pernambuco, José Gomes da Silva, como era chamado, ainda jovem foi viver no Rio de Janeiro, onde frequentava a boemia do central bairro da Lapa.

Fez amigos entre a malandragem e bandidagem da época, sendo querido por todos. Perito em jogos de azar (baralho e dados) ganhava de todos os que ousassem desafiá-lo. Exímio no manejo de armas brancas, sempre estava pronto a defender os injustiçados, coisa que ainda faz, hoje em dia, só espiritualmente.


Assim, Zé Pelintra formou uma bela falange de malandros de luz, que vem ajudar aqueles que necessitam. Eles são as entidades amigas e de muito respeito, sendo assim, não aceitamos que pessoas que não respeitam a religião digam que estão incorporadas com seu Zé ou qualquer outro malandro, e façam uso de maconha ou tóxicos. As entidades usam cigarros e charutos, pois a fumaça funciona como defumador astral e não visa. Entre os membros de sua falange, há: Seu Chico Pelintra, Cibamba, Zé da Virada, Zé Camisa Preta, Zé Mineiro, Zé Camisa Vermelha, Zé Camisa Listrada, Malandrinho,Zé da Mata. Malandro da Baixa do Sapateiro, Malandro da Lapa, Malandro do Pelourinho, Malandro da Praia, Malandro da Zona Portuária, entre outros.

 Aderiram à Linha das Almas da Umbanda. São Guias luzeiros que são frequentemente encontrados em giras de Exú devido à afinidade com o sub-mundo e também por não haver comumente nos terreiros uma gira a eles dedicado. Zé Pelintra é considerado o "advogado dos pobres" Possui conhecimentos para curas de males físicos e espirituais. Devido a sua extrema simpatia é adorado quando baixa nos terreiros, canalizando para sí a atenção de todos.


Tornou-se chefe da Linha dos Malandros, que compreende espíritos que tiveram vida nos morros cariocas, na boemia da Lapa, nos subúrbios cariocas, baianos e recifenses. Trata-se de um coringa, tanto incorporando na direita como na esquerda. Isto é, Seu Zé pode baixar em qualquer gira, tanto de Exú, como de Preto Velho, Mineiro, Baiano, boiadeiro, marinheiro e caboclo.

Há casos de trançamento, ou cruzamento com esses também, como por exemplo, Zé Baiano, Zé Boiadeiro, entre outros.

São entidades de Luz, carismáticas, e chegam nos terreiros de Umbanda, com seu samba ou capoeira no pé, seu cigarro na boca, chapéu de panamá de lado, com toda a ginga de um malandro. Ao contrário dos Exús que estão nas encruzilhadas, encontramos os malandros em bares, subidas de morros, festas, esquinas e muito mais.

Salve a Malandragem!
Salve Seu Zé Pelintra!
História de Zé Pilintra.

José dos Anjos, nascido no interior de Pernambuco, era um negro forte e ágil, grande jogador e bebedor, mulherengo e brigão. Manejava uma faca como ninguém, e enfrentá-lo numa briga era o mesmo que assinar o atestado de óbito. Os policiais já sabiam do perigo que ele representava. Dificilmente encaravam-no sózinhos, sempre em grupo e mesmo assim não tinham a certeza de não saírem bastante prejudicados das pendengas em que se envolviam.

Não era mal de coração, muito pelo contrário, era bondoso, principalmente com as mulheres, as quais tratava como rainhas.

Sua vida era a noite. Sua alegria, as cartas, os dadinhos a bebida, a farra, as mulheres e por que não, as brigas. Jogava para ganhar, mas não gostava de enganar os incautos, estes sempre dispensava, mandava embora, mesmo que precisasse dar uns cascudos neles. Mas ao contrário, aos falsos espertos, os que se achavam mais capazes no manuseio das cartas e dos dados, a estes enganava o quanto podia e os considerava os verdadeiros otários. Incentivava-os ao jogo, perdendo de propósito quando as apostas ainda eram baixas e os limpando completamente ao final das partidas. Isso bebendo aguardente, cerveja, vermouth, e outros alcoólicos que aparecessem.

Zé Pilintra no Catimbó.

No Nordeste do Pais, mas precisamente em Recife (na religião que conhecemos como Catimbó), ainda que nas vestes de um malandrão, a figura de Zé Pelintra, tem uma conotação completamente diferente. Lá, ele é doutor, é curador, é Mestre e é muito respeitado. Em poucas reuniões não aparece seu Zé.

O reino espiritual chamado “Jurema”, é o local sagrado onde vivem os Mestres do Catimbó, religião forte do Nordeste, muito aproximada da Umbanda, mas que mantém suas características bem independentes. Na Jurema, Seu Zé, não tem a menor conotação de Exu, a não ser quando a reunião é de esquerda, por que o Mestre tem essa capacidade. Tanto pode vir na direita ou na esquerda. Quando vem na esquerda, não é que venha para praticar o mal, é justamente o contrário, vem revestido desse tipo de energia para poder cortá-la com mais propriedade e assim ajudar mais facilmente aos que vem lhe rogar ajuda.

No Catimbó, Seu Zé usa bengala, que pode ser qualquer cajado, fuma cachimbo e bebe cachaça. Dança côco, Baião e Xaxado, sorri para as mulheres, abençoa a todos, que o abraçam e o chamam de padrinho.

Nomes de Alguns Malandros e Malandras:

Zé Pilintra

Zé Malandro

Zé do Coco

Zé da Luz

Zé de Légua

Zé Moreno

Zé Pereira

Zé Pretinho

Malandrinho

Camisa Listrada

7 Navalhadas

Maria do Cais

Maria Navalha.

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Linha de Ação e Trabalho dos Malandros.

As entidades que hoje se manifestam nessa “nova” linha de ação e trabalho umbandista, antes chegavam nas giras nas linhas dos Baianos ou dos Exus. Aos poucos, foram sendo aceitos, respeitados e procurados, ganhando linha própria, comandados por Seu Zé Pelintra.

Originaram-se no Catimbó nordestino, com identidade na pajelança xamânica dos índios brasileiros e no catolicismo, na chamada Linha dos Mestres e do culto à Jurema sagrada, bem antes da Umbanda. São o resultado da grande miscigenação cultural e racial brasileira e retratam as populações marginalizadas, desfavorecidas, pobres e sofredoras das periferias do país, tanto rurais quanto urbanas.

O Catimbó se desenvolveu paralelamente à Umbanda, mas ambos se encontraram nos grandes centros urbanos. O termo “Mestre”, usado no Catimbó, vem da feitiçaria européia, principalmente a portuguesa, da qual adotou várias práticas, inclusive o uso do caldeirão e rituais de magia. É fundamental no Catimbó o uso de ervas e raízes, a fidelidade aos dogmas do catolicismo, aos santos, ao terço, à água benta e à reza. O trabalho e a força estão na fumaça e nas ervas. O fumo é especialmente preparado e a magia do trabalho vai pelo ar, no tempo, junto com a fumaça e a bebida.

Em geral, os mestres são espíritos curadores que tiveram mortes trágicas e se “encantaram”. Trabalham para a solução de alguns problemas materiais e amorosos.

As entidades que se manifestam na Linha dos Malandros são um agrupamento de espíritos que viveram suas reencarnações na pobreza e no sofrimento, mas souberam tirar da dor o humor e o jogo de cintura para driblar a miséria e o baixo astral. Por onde passam levam alegria e arrancam sorrisos e gargalhadas, com seu samba no pé, sua ginga e malandragem.

Os malandros do astral não são marginais do além, como muitos supõem. São espíritos amigos, voltados para a prática da caridade espiritual e material. Propagam o respeito ao ser humano, a tolerância religiosa, a humildade, os bons exemplos, o amor ao próximo, o amparo às crianças desamparadas e aos idosos. Combatem as trevas e desmancham feitiços e magias negras.

Em locais de extrema pobreza e ausência de assistência pública e de justiça humana, os malandros estão presentes com sua misericórdia, buscando aliviar o sofrimento e socorrer os necessitados, enxugando as lágrimas dos que sofrem.

Manifestam-se na Linha dos Malandros muitos “Zés”: Zé Pelintra, Zé da Virada, Zé Navalha, Zé Malandrinho, Zé da Faca e outros, como Chico Pelintra, Cibamba, Seu Malandro. São “mandingueiros” do bem e apresentam grande senso de humor em suas manifestações. São entidades da rua, encontrados em bares, festas, subidas de morros etc.

Zé Pelintra é uma entidade urbana, que pode até nada ter a ver com a origem dos mestres, mas é chamado de mestre catimbozeiro, doutor, curador, conselheiro, defensor das mulheres, das crianças e dos pobres, guerreiro da igualdade social, médico dos pobres, advogado dos injustiçados, dono da noite e rei da magia. Tem grande importância nos catimbós e nas macumbas cariocas e é o protetor dos comerciantes, principalmente de bares, lanchonetes, restaurantes e boates.

A saudação para essa linha é: Salve os Malandros! Salve a Malandragem!

Suas cores são o vermelho e o branco ou o preto e o branco. A regência dos malandros é de Pai Ogum e, pelas cores, Pai Omolu.


ZÉ PELINTRA - SUAS ORIGENS E REPRESENTAÇÕES.

                                       
Personagem bastante conhecido seja por freqüentadores das religiões onde atua como entidade, por sua notável malandragem, Seu Zé tem sua imagem reconhecida como um ícone, um representante, o verdadeiro estereótipo do malandro, ou porque não dizer, da malandragem brasileira e mais especificamente, carioca. Trata-se de uma corrente que, de uma forma ou de outra, permeia o imaginário popular da cultura brasileira e, portanto, carrega suas egrégoras tanto como outras.


Um do seu maior destaque está justamente no fato do Seu Zé ter uma tremenda elegância e competência, mesmo sendo negro (levando em consideração que, para a época em que os negros e brancos viviam praticamente isolados, apesar da existência de uma numerosa população mestiça nas grandes cidades brasileiras, e que desse abismo social implicava também uma grande divisão financeira de classe social). É como se a figura do Seu Zé torna-se representativa da própria dignidade do negro, deixando para trás a idéia de um negro “arrasta-pé”, maltrapilho ou simples trabalhador braçal.


Em sua origem, Seu Zé torna-se famoso primeiramente no Nordeste… Primeiro como freqüentador dos catimbós e, depois como entidade dessa religião. Vale destacar aqui que o Catimbó está inserido no quadro das religiões populares do Norte e Nordeste e traz consigo a relação com a pajelança indígena e os candomblés de caboclo muito difundidos na Bahia.


Conta-se que ainda jovem era um caboclo violento que brigava por qualquer coisa mesmo sem ter razão. Sua fama de “erveiro” vem também do Nordeste. Seria capaz de receitar chás medicinais para a cura de qualquer mal, benzer e quebrar feitiços dos seus consulentes. De acordo com Ligiéro (2004), Seu Zé migra para o Rio de janeiro onde se torna nas primeiras três décadas do século XX um famoso malandro na zona boêmia carioca, a região da Lapa, Estácio, Gamboa e zona portuária. Segundo relatos históricos Seu Zé era grande jogador, amante das prostitutas e inveterado boêmio.


Contudo, há outra história que conta que Seu Zé teria nascido no povoado de Bodocó, sertão pernambucano próximo a cidadezinha que leva o nome de Exu, à qual segundo o próprio Zé Pilintra quando manifestado numa mesa de catimbó, foi batizada com este nome em sua homenagem, já que sua família era daquela região antes mesmo de se tornar cidade. Fugindo da terrível seca de meados do século passado que abatia todo o sertão, a família do então “José dos Santos” rumou para a Capital Recife em busca de uma vida melhor, mas o destino lhe pregou uma preça que culminou com a morte da mãe, antes mesmo que o menino Zé completasse 3 anos. Logo em seguida, morreria seu pai de tuberculose.


José então ficou orfão e teve que enfrentar o mundo juntamente com seus sete irmãos menores. Cresceu no meio da malandragem, dormindo no cais do porto e sendo menino de recados de prostitutas. Sua estatura alta e forte granjeou-lhe respeito no meio da malandragem. Conta-se que, certa vez, Zezinho, como também era conhecido, teve que enfrentar cinco policiais numa briga no cabará da Jovelina, no bairro de Casa Amarela. Um dos soldados recebeu um corte de peixeira no rosto que decepou-lhe o nariz e parte da boca. Doze tiros foram disparados contra Zezinho, mas nenhum deles o atingiu. Diziam que ele tinha o corpo fechado. Antes que chegassem reforços, Zezinho já tinha fugido ileso, indo se esconder na casa do coronel Laranjeira, um poderoso usineiro pernambucano, protetor do rapazote e família. Em decorrência deste episódio, Zezinho ganhou o apelido de Zé Pilintra Valentão, nome esse dado pelos próprios soldados da polícia pernambucana. Pilintra significa pilantra, malandro, janota etc. Assim, entre trancos e barrancos, Seu Zé consegue fazer fama na cidade de Recife e criar seus irmãos até a maior idade.


Quanto a sua morte, autores descordam sobre como esta teria acontecido. Afirma-se que ele poderia ter sido assassinado por uma mulher, um antigo desafeto, ou por outro malandro igualmente perigoso. Porém, o consenso entre todas essas hipóteses é de que fora atacado pelas costas, uma vez que pela frente, afirmam, o homem era imbatível.


Para Zé Pelintra a morte representou “um momento de transição e de continuidade”, afirma Ligiéro, e passa a ser assim, incorporado à Umbanda e ao Catimbó. Todavia, a principal história que seu Zé Pelintra quer escrever, é a da caridade, tanto aquela que ele dedicou aos seus entes queridos e pares de sangue, como também àqueles em que deveu um auxílio e apoio mútuo quando em vida. É assim que seu Zé Pelintra, hoje ao lado do espírito dos seus irmãos e irmãs em vida, formaram uma bela Falange de malandros de luz, que vêm ajudar aqueles que necessitam.
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Sou Zé Pelintra - Por Jorge Scritori.

Sou guia, sou corrente, egrégora e proteção. Sou chapéu, sou terno, gravata e anel. Sou sertão, sertanejo, carioca, paulista, alagoano e Brasileiro. Sou Mestre, Malandro, Baiano, Catimbozeiro, Exu e Povo de Rua. Sou faca, facão e navalha. Sou armada, cabeçada e rasteira. Sou Lua cheia, sou noite clara, sou céu aberto.

Sou o suspiro dos oprimidos, sou a fé dos abandonados. Sou o pano que cobre o mendigo, sou o mulato que sobe o morro e o Doutor que desce a favela.

Sou Umbanda, Catimbó e Candomblé. Sou porta aberta e jogo fechado. Sou Angola e sou Regional.

Sou cachimbo, sou piteira, cigarro de palha e fumo de corda. Sou charuto, sou tabaco, sou fumo de ponta, sou brasa nos corações dos esquecidos.

Sou jogo de rua, sou baralho, sou dado e dominó. Sou cachetinha, sou palitinho, sou aposta rápida. Sou truco, sou buraco e carteado.

Sou proteção ao desamparado, sou o corte da demanda e a cura da doença.

Sou a porta do terreiro, sou gira aberta e gira cantada.

Sou ladainha, sou hino, sou ponto, sou samba e dou bamba.

Sou reza forte, sou benzimento, sou passe e transporte.

Sou gingado, sou bailado, sou lenço, sou cravo vermelho e sou rosas brancas.

Sou roda, sou jogo, sou fogo. Sou descarrego, sou pólvora, sou cachaça e sou Jurema.

Sou lágrima, sou sorriso, sou alegria e esperança.

Sou amigo, parceiro e companheiro.

Sou Magia, sou Feitiço, sou Kimbanda e sou demanda.

Sou irmão, sou filho, sou pai, amante e marido. Sou Maria Navalha, Sou Zé Pretinho, sou Tijuco Preto e sou Camisa Preta.

Sou sobrevivência, sou flexibilidade, sou jeito, oportunidade e sabedoria.

Sou escola, sou estudo sou pesquisa e poesia.

Sou o desconhecido, sou o homem de história duvidosa, mas sou a história de muitos homens.

Sou a vida a ser vivida, sou palma a ser batida, sou o verdadeiro jogo da vida:

Eu Sou Zé Pilintra!

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Zé Pelintra: Origem e História.



Personagem bastante conhecido seja por freqüentadores das religiões onde atua como entidade, por sua notável malandragem, Seu Zé tem sua imagem reconhecida como um ícone, um representante, o verdadeiro estereótipo do malandro, ou porque não dizer, da malandragem brasileira e mais especificamente, carioca. Não raro, encontra-se pessoas que o conhecem de nome pela sua malandragem, mas não sabem que este é uma entidade do Catimbó e da Umbanda; outras já o viram retratado inúmeras vezes, mas não sabiam que se tratava de “alguém” e também encontraremos os que o conhecem apenas como entidade e desconhecem sua origem e história, estes porém, menos freqüentes. O fato é que a figura de Zé Pelintra, de uma forma ou de outra, permeia o imaginário popular da cultura brasileira e é retratada de diversas maneiras.


Por exemplo:


Na década de 1970 Chico Buarque cria sua Ópera do Malandro. Para o cartaz do espetáculo teatral o artista Maurício Arraes utiliza a figura de Zé Pelintra mesclada aos traços faciais de Chico Buarque .




No início da década de 1990, o cineasta Roberto Moura lança Katharsis: histórias dos anos 80, “com Grande Othelo no papel de Zé Pelintra, e este seria o último longa-metragem desse emblemático ator negro”, lembra Ligiéro (2004).





Até mesmo a figura de Zé Carioca, personagem de Walt Disney teria sido inspirado em Seu Zé.






Ligiéro conta a história: Em 1940, Walt Disney fez uma viagem ao Brasil como parte do programa “política da boa vizinhança” criado pelo governo norte-americano – para pesquisar um novo personagem tipicamente brasileiro. Na ocasião, foi levado com sua equipe de desenhistas para conhecer a Escola de Samba da Portela. Naquela noite, a nata do samba reuniu-se, como fizera alguns anos antes com a visita de Josephine Baker ao Rio de janeiro. Lá estavam as figuras mais importantes do mundo do samba – Cartola, Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres…


Conta-se que foi Paulo – falante e elegante – quem realmente impressionou Walt Disney e o inspirou a criar o personagem Zé Carioca. Na ocasião o sambista não estava todo de branco, tinha apenas o paletó nessa cor, mas foi o suficiente, pois essa peça passou a ser a marca de Zé Carioca [...] (Ibidem, p. 10)




Paulo da Portela.


O Zé Carioca do Disney, que passou a ser um símbolo do Rio de Janeiro e do próprio Brasil no exterior, fuma charuto e tem um guarda-chuva que ele maneja como uma bengala.


O terno de linho branco tornou-se o símbolo do malandro por ser vistoso, de caimento perfeito, largo e próprio para a capoeiragem. Para o malandro, lutar sem sujá-lo era uma forma de mostrar habilidade e superioridade no jogo de corpo. Ao contrário dos executivos de sua época, que tentavam imitar os ingleses, o malandro não usava casimira, tecido pouco apropriado para o clima úmido dos trópicos.


Seu Zé destacava-se pela elegância e competência como negro [...]. Numa época em que os negros e brancos viviam praticamente isolados, apesar da existência de uma numerosa população mestiça nas grandes cidades brasileiras, vamos observar que a figura do malandro torna-se representativa da dignidade do negro deixando para trás a idéia de um negro “arrasta-pé”, maltrapilho ou simples trabalhador braçal (Ibidem, p. 101-2).

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A LINHA DOS MALANDROS - POR JORGE SCRITORI


A Linha dos Malandros da Umbanda traz para dentro do ambiente Sagrado os excluídos da sociedade. Espíritos que em alguma encarnação, por conta do preconceito racial, foram considerados párias e marginalizados pela sociedade, mas que lidaram com essa adversidade sem perder sua Fé, sua identidade e seu bom humor, certamente que já apresentavam um bom nível pessoal de evolução. E após desencarnarem continuaram suas evoluções, até alcançarem um Grau perante a Espiritualidade, o qual lhes permitiu voltar à Terra na condição de Guias Espirituais, para nos reconduzir ao Divino.



Ao mesmo tempo, a Linha dos Malandros simboliza a aproximação dos excluídos com o Divino e ainda, para todas as pessoas, a possibilidade de uma reflexão sobre o preconceito e as exclusões sociais.



Mas, afinal, alguns se perguntam o quê um “malandro” teria para nos ensinar, qual seria a sua contribuição dentro da religião? Primeiro, cabe lembrar que não estamos falando do “malandro” no sentido vulgar da palavra.



Os Espíritos que se apresentam na Umbanda dentro da Linha que corresponde ao Grau Malandro (com “M” maiúsculo!) vêm nos ensinar a flexibilidade, a capacidade de adaptação diante dos obstáculos, o “jogo de cintura” e o bom humor, que se obtêm através do sentimento de Fé na Vida e em si mesmo e do equilíbrio das emoções, dos pensamentos e dos sentimentos. De alguma forma, em algum momento das suas existências, eles vivenciaram tudo isso e podem nos auxiliar.



Os Malandros nos ensinam: ●que a vida é feita de experiências e toda experiência visa a nos ensinar algo de positivo; ●que não há obstáculos insuperáveis, pois isso nos condenaria à destruição, o que é inconcebível porque não há “morte” em nenhum ponto do Universo e sim, transformações que promovem renovação e evolução constantes; ●que é preciso confiar nas Leis da Vida e manter a alegria e o bom humor, para estar em sintonia com faixas vibratórias positivas e atrair a cura espiritual, emocional, mental e física, pois todo filho de Deus é um co-criador.



Sua linguagem é altamente simbólica. Muitas vezes, eles falam conosco e comparam a vida a um jogo de cartas ou de dados:



●Nesse “jogo”, uma “jogada” ruim seria um imprevisto, uma adversidade. O que não significa a perda da partida (motivo para desespero, descrença e desistência), pois a próxima “jogada” (a nova oportunidade, o próximo passo) poderá ser melhor, só depende de nós;



●Nesse “jogo”, é preciso estar atento a cada passo, observando o “adversário” (o desafio externo, bem como os próprios pensamentos, convicções, emoções e sentimentos), para se enfrentá-lo em melhores condições e se alcançar “a vitória”;

●“A vitória” pode ser a superação do obstáculo em si. Mas a grande “vitória” é o entendimento das causas da dificuldade e a aceitação da nossa responsabilidade por essa realidade que de algum modo criamos. O erro ensina e nos dá oportunidade de recomeçar e acertar;



●No caso de uma derrota, saber esperar outra oportunidade e tentar de novo, sem nunca desistir. Podemos “virar o jogo” através da persistência, da alegria e da Fé no amanhã. É a valorização da vida, da própria existência, do momento atual e de cada momento.



O seu “gingado”, a sua musicalidade, a sua dança e a sua “malandragem” não são simples repetição das características “dos malandros do mundo”, vamos dizer assim. Esses Espíritos não estão entre nós para fazer apologia do que foram, possivelmente, em alguma encarnação, mas para nos ensinar o que é possível extrair das lições da vida.

A grande “malandragem” que eles nos ensinam é como sermos flexíveis, nos desapegando e abrindo mão de idéias antigas, para nos renovarmos a cada dia; encarar a vida com leveza, sem guardar rancores e levar tudo para o campo pessoal; não perder o humor e estragar um dia por causa de um obstáculo, por maior que pareça; aprender com os próprios erros, para não repeti-los, pois quem anda atento na vida não vive caindo em buraco...

No aspecto social, a Linha dos Malandros simboliza a inclusão de negros, mulatos e mestiços que viviam marginalizados em nossa sociedade desde o período pós-abolição. Claro que os Espíritos que tiveram uma encarnação assim, como excluídos, continuaram evoluindo e não precisam ser “incluídos em nosso meio social”. Nós é que precisamos refletir sobre as exclusões que já aconteceram e ainda acontecem por aqui, baseadas em preconceitos, para não repeti-las. E só alcançaremos isso a partir de uma conduta fraterna e de respeito integral ao “outro”. Por outro lado, a presença desses Espíritos nos Terreiros de Umbanda, acolhendo a todos com sua alegria e suas magias, é um braço de atração dos mais humildes, que se identificam com essa maneira despojada de ser, despertam a autoconfiança e podem melhor se expressar e progredir. Existiria melhor exemplo de “aprender com os erros”?



Quanto à questão social, vale lembrar que a “abolição” da escravatura não pôs fim ao preconceito racial. Historicamente, continuou existindo em nosso país um preconceito velado em relação aos homens e mulheres de pele negra, aos mulatos e aos mestiços.

Não se pretende, aqui, discutir a validade da Lei Áurea, que libertou os escravos no Brasil, enquanto ferramenta jurídica. Na época, o advento dessa Lei foi importante porque seus infratores passaram a ser considerados criminosos, e isto encerrou um capítulo sombrio do nosso passado. Mas o entendimento de que todos somos filhos de Deus e iguais perante a Lei e a Justiça Divinas não é algo que se alcance por meio de leis humanas, por mais bem intencionados que estejam os seus autores. Isto só se alcançará com a expansão de consciência de cada ser humano, com o decorrer do tempo e a vivência das lições que a Vida Maior nos proporciona. A “libertação” de opressores e oprimidos vem da expansão da consciência: conhecendo sua origem e natureza Divina, o ser humano se desinteressa pelo desejo de posse a qualquer custo e, aí sim, começa a se “humanizar”, começa a compreender a razão de existirmos e a agir como quem é Um com o Todo.



Enfim, com o decreto da abolição no Brasil, um imenso contingente de homens e mulheres recém libertos não conseguia uma colocação de trabalho remunerado. Antigos escravocratas defendiam a idéia de que os negros só renderiam se forçados a trabalhar, como no tempo da escravidão. Houve uma propaganda intensa no sentido de que seria muito melhor trazer para cá os colonos europeus, obviamente brancos. Os europeus vieram e ocuparam a maior parte das colocações de trabalho, sendo sempre preferidos em relação aos ex-escravos. Destes últimos, a maioria ficava sem uma ocupação condigna e sem acesso às escolas e a um aprimoramento, enquanto alguns conseguiam apenas ocupações menores. Em consequência, pouco a pouco se formaram os primeiros grandes grupos de pessoas colocadas a viver à margem da sociedade brasileira.



Depois da abolição dos escravos e no correr dos anos, a idéia de que os negros e seus descendentes eram preguiçosos e menos capazes de aprender do que os brancos foi um pensamento disseminado em boa parte do nosso meio social. Fato é que a mão-de-obra escrava sempre deu conta de enriquecer os que dela se utilizavam; sinal de que os escravos, mesmo em condições absolutamente adversas, tinham competência no que faziam...



Mas por toda a parte, no mundo, então se insinuava uma perigosa teoria: a “da supremacia racial branca”, que de certa forma contaminou o nosso país.

Existia no Brasil, à época, um clima de discriminação muito pesado, embora silencioso. Não havia, propriamente, episódios de violência física contra os negros, mulatos e mestiços, ao contrário do que ocorria em muitos países. Mas os costumes sociais sinalizavam no sentido de que era preciso “alisar o cabelo” para se ter boa aparência; que a música, a dança e o gingado dos negros “não eram boa coisa” etc. etc. Essa propaganda infeliz pretendia fazer com que os negros, os mulatos e os mestiços negassem sua identidade, forçando-os a “um branqueamento”. Afinal, para os opressores de sempre, a grande meta era continuar a escravizar e a melhor forma de fazer isso era pela via indireta, ou seja, fazendo com que os excluídos se sentissem inferiores e se colocassem em posição subalterna perante a sociedade que “os libertara”. Irônico? Não, apenas triste, muito triste esse capítulo da história do nosso país...



De alguma forma, os poderosos da época continuaram a vender a idéia de que aquelas pessoas eram inferiores. Os ideais dos Inconfidentes e dos Abolicionistas, que algum tempo antes comoveram e convenceram a muitos sobre o absurdo da escravidão humana, culminando com o advento da Lei Áurea, aqueles ideais agora ficavam para trás, esquecidos, sepultados sob a voracidade da sede de poder dos capitalistas extremados. Tudo o que importava era o lucro pelo lucro. Desqualificando, dessa forma, a mão-de-obra dos recém “libertos”, os detentores do poder político-econômico tomavam-lhes força de trabalho em troca de quase nada, porque muitos se sujeitaram a isso para não morrer de fome...

De qualquer maneira e de modo geral, aquelas pessoas e seus descendentes não eram bem vistos. E, com o tempo, vão surgindo as rodas da marginalidade. Não, necessariamente, a marginalidade do crime. Mas uma condição de vida à margem do quadro social. A música e a dança apreciadas por aqueles que a sociedade marginalizava não eram bem vistas, nem as suas atividades de recreação (jogos, carteado, capoeira etc.); e então surgiram grupos localizados para essas atividades. Frequentá-los, muitas vezes, era motivo bastante para ser alvo da polícia. Obviamente que esses lugares acabavam atraindo também pessoas já antes voltadas para o crime. Esses locais acabaram por tornarem-se perigosos o bastante para explicar que muitos de seus frequentadores andassem armados, ainda que não fossem propriamente criminosos. Daí dizer-se que os “malandros” andavam com faca ou navalha etc.



Quando se fala em “malandro”, na linguagem cotidiana, a primeira idéia que nos ocorre é a do boêmio, do jogador inveterado de cartas ou de dados, do amante da noite, da música e das rodas de danças, que vivia de expedientes, carregava navalha ou faca e fugia da polícia.



O “malandro” carioca faz lembrar aquele que vivia na Lapa, que gostava de samba e passava as noites na gafieira, chegando a ser personagem de peças teatrais, de músicas e de muitas histórias. Já o “malandro” de Pernambuco vivia nas danças do côco e do xaxado, passando as noites no forró. O que eles têm em comum? Eram todos marginalizados pela sociedade, vistos como “gente à toa”. Porém, sobreviveram a esse clima adverso, vivendo sem acesso a uma boa instrução ou a bons empregos; nem sempre conseguiram, senão com muita dificuldade, dar alguma instrução aos filhos. Nem por isso perderam a alegria, o gosto pela música e pela dança, pelo carteado, pela conversa noite adentro, de alguma forma conseguindo manter suas raízes religiosas e tradições ancestrais, dando “um jeitinho” de ser felizes.



Por trás dos arquétipos da Umbanda, vamos encontrar, no mais das vezes, a Mão da Espiritualidade Superior a corrigir grandes equívocos e injustiças sociais e a nos fazer refletir, enquanto nos auxilia nos problemas do cotidiano. E hoje temos, na presença da Linha de Malandros, uma excelente oportunidade de refletir sobre algumas questões, em especial: primeiro, que nem tudo que parece ruim de fato o é; e segundo, que de tudo se pode extrair algo de bom e de positivo. Do que poderia ter sido uma experiência de todo ruim, esses Espíritos extraíram uma lição de flexibilidade. E aquilo que para uma sociedade hipócrita parecia ser neles um mal era, muito ao contrário, a prova de valor de um povo que manteve fidelidade às suas raízes e não se deixou vencer pelo meio hostil.



Os Malandros vêm até nós, pelas Mãos do Alto, para nos ensinar “a boa malandragem”: fazer limonada com os limões azedos que recebemos dos outros; escorregar e levantar rapidinho, sem perder a compostura e a elegância, e já sair dançando e cantando; aprender jogar “o jogo da vida” e ser um bom parceiro de jogo, aprendendo a rir das tristezas e de si mesmo; assumir ser o que se é, sem hipocrisias, e fazer todo o Bem que se possa; não se prender a padrões e valores externos, mas ficar centrado em si mesmo e na sua Fé, sem nunca desacreditar da Vida Maior, cujo amparo permeia todos os nossos caminhos diários.

Pensar que os Malandros podem nos ensinar tudo isso brincando, de um jeito tão despojado, é o bastante para se quebrar velho ditado que dizia: ”de onde não se espera é que não sai nada”. Porque as aparências enganam!...



Então, não vamos viver de aparências e nem pelas aparências. Vamos viver a vida com Amor, Respeito e Fé. Vamos acreditar em nosso poder interior, que é Deus em nós. Vamos aprender a nos centrar e a nos conhecer intimamente, despertando nossas capacidades e valores acumulados ao longo desta e de outras encarnações e que ainda dormem dentro de nós, mas que podem ser despertados pelo nosso querer, por nossa vontade de superar as dificuldades, por nossa firme determinação de curar nossos pensamentos menos felizes e de encontrar respostas para as nossas necessidades, para enfim chegarmos a um caminho de felicidade, aqui e agora.



Quando se está na frente de um Malandro da Umbanda, é bom que a gente reflita sobre isso.



Essas Entidades estão entre nós por um recurso da Misericórdia Divina, trabalhando pela continuidade da própria evolução e também em nosso favor. Então, nada de o consulente adotar “julgamentos apressados”, no sentido de que se poderia pedir a eles algum mal, um trabalho de magia negativa ou coisa do gênero. E nós, médiuns, não podemos cair na bobagem de achar que podemos dar vazão aos nossos impulsos menos nobres e começar a usar de palavreado chulo, ou desandar a beber e a fumar etc. etc., sob o pretexto de que foi “o malandro” (aqui, com “m” minúsculo, porque um Malandro, um Guia de Umbanda, não faz isso nunca!...).



Vamos recordar que os Malandros são Espíritos a serviço da Luz que vêm nos guiar, orientar e auxiliar; e que um Guia é sempre alguém mais elevado do que nós. Precisamos nos conduzir com honra, respeito, devoção e gratidão aos nossos Guias de Umbanda, para darmos continuidade à nossa evolução. É preciso estar no Terreiro, com em qualquer Templo, de alma e corpo presentes, por inteiro, pra valer.



Os Malandros são simples, amigos, leais e verdadeiros.



Mas se alguém pensa que pode enganá-los, então é desmascarado sem a menor cerimônia e na frente de todos, porque os Malandros não toleram a maldade, a injustiça ou a tentativa de se enganar aos mais fracos.



Nos Terreiros que adotam vestimentas características, quando incorporados em seus médiuns, os Malandros se apresentam vestidos com camisas listradas, alguns com camisas de seda, outros de terno e gravata brancos e chapéu ao estilo Panamá e às vezes de palha. Usam sapatos brancos, ou então bicolores (branco/preto; preto/vermelho) e gravata vermelha. Alguns usam cartola; outros, uma bengala (cajado).



Manipulam magisticamente fumos como charutos e cigarrilhas; e bebidas que vão desde aguardente, batidas, batida de côco, conhaque até uísque.

São cordiais e alegres. Parecem dançar a maior parte do tempo, mas com seus movimentos estão é recolhendo negatividades e purificando as pessoas e o ambiente.

Podem se envolver com qualquer tipo de assunto e têm capacidade espiritual bastante elevada para resolvê-los. Trabalham para curar, desmanchar magias negativas, proteger e abrir caminhos. Atuam muito na cura de problemas de cunho espiritual e emocional, particularmente no campo das chamadas doenças mentais (ansiedade, fobias, depressão, síndrome do pânico, compulsões, esquizofrenia etc.), pois seu magnetismo é bastante eficaz sobre os distúrbios originários de desequilíbrios do Sentido da Fé.



De modo geral, os Malandros se apresentam com uma fita vermelha no chapéu. Mas os que atuam na cura usam uma fita branca, símbolo do curador, ligado ao Pai Oxalá.



Dentro da Linha existem também as manifestações femininas, das quais Maria Navalha e Maria do Cais são os exemplos mais conhecidos.



Como regra geral, os Malandros não são Exus. São Entidades que integram Linhas de Trabalho distintas. Mas alguns Malandros se manifestam nas sessões de Esquerda, junto com os Exus.

Uma figura bastante conhecida dentro desta Linha é Seu Zé Pelintra.



Seu Zé, como é conhecido popularmente, é uma Entidade peculiar, pois tanto se manifesta na Direita quanto na Esquerda. Na Direita, ele vem como Malandro mesmo, ou como Baiano, ou ainda como Preto Velho quimbandeiro (isto é, voltado para o corte de magias negativas). E pode vir na Esquerda, como Exu. Por que será? Ora, uma das grandes características dos Malandros não é a flexibilidade? Pois então... Seja como for, ele é um Guia a serviço da Luz.



Já no Catimbó, Zé Pelintra é “doutor”, é um curador, é um Mestre da Jurema bastante respeitado. Na Jurema, Seu Zé Pelintra não tem a conotação de Exu, a não ser quando a reunião é de Esquerda, porque os Mestres da Jurema têm essa capacidade de pode vir tanto na Direita quanto na Esquerda. Na Esquerda, os Mestres vêm para cortar o mal.



No Catimbó, Seu Zé usa bengala (que pode ser qualquer cajado), cachimbo e faz uso ritualístico da cachaça. Dança côco, baião e xaxado e abençoa a todos, que o abraçam e o chamam de padrinho.



A personagem principal da “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque de Holanda, ao que consta, foi baseada nos modos e trejeitos de Seu Zé Pelintra.



E Itamar Assumpção, em parceria com Wally Salomão, compôs para Seu Zé Pelintra esta música, que leva o nome da Entidade:



Zé Pelintra desceu



Zé Pelintra baixou



É ele que chega e parte a fechadura



Do portão cerrado.



Zé Pelintra desceu



Zé Pelintra baixou



É ele quem chamega, quem penetra



Em cada fresta e rompe o cadeado.



E quando Zé Pelintra pinta na aldeia



O povo todo saracoteia



Aparta briga feia, terno branco alinhado



Cabelo arapuá de brilhantina besuntado.



Ele, do ovo, é a porção gema, bebe suco da jurema



Resolve impossível demanda



Homem elástico, homem borracha



Desliza quem nem vaselina



Saravá a sua banda.



É ele quem abre uma brecha



Acende uma tocha no breu



Desparafusa a rosca



Seu cavalo sou eu.



(Fonte: O site: do afro ao brasileiro ponto org.)



Contam-se muitas estórias sobre quem teria sido Zé Pelintra quando encarnado. Alguns dizem que viveu em Pernambuco, outros afirmam que viveu no Rio de Janeiro.



Porém, não podemos nos esquecer de que dentro da Linha dos Malandros, como nas demais Linhas de Trabalho da Umbanda, estão agrupados espíritos que tiveram encarnações diferentes entre si. O ponto central é sabermos que esses Espíritos não estão presos a seus antigos nomes e sim, que foram agrupados a partir de suas afinidades vibratórias e evolutivas e de suas especialidades (campos de atuação).



Nomes Simbólicos: Zé Pelintra, Zé Malandro, Zé do Côco, Zé da Luz, Zé de Légua, Zé Moreno, Zé Pereira, Zé Pretinho, Malandrinho, Camisa Preta, Camisa Listrada, Sete Navalhas, Malandro do Morro,Malandro das Sete Facas.



Algumas Entidades Femininas que se manifestam nesta Linha: Maria do Cais, Maria Navalha.



Dia da semana: Não há um dia específico, tendo em vista que a Linha tem um campo de atuação muito vasto e se manifesta tanto na Direita quanto na Esquerda. Os Malandros que trabalham na cura costumam ser mais associados ao sábado, regido por Saturno e Urano, planetas relacionados ao Orixá Obaluayê. Já os que trabalham no corte de demandas têm uma associação mais direta com a terça-feira, regida por Marte e relacionada aos Orixás Ogum, Yansã e Omolu.



Campo de atuação: Limpeza energética, purificação e equilíbrio; quebra de preconceitos; desapego; corte de magias negativas; abertura de caminhos para a prosperidade em geral (espiritual e material); cura espiritual, emocional, mental e física.



Ponto de Força: O Ponto de Força dos Malandros é na subida de morros, nas esquinas e encruzilhadas, aos pés de coqueiros e até em cemitérios, dependendo do seu campo específico de atuação.



Cor: Branco/preto; branco/vermelho; vermelho/preto.



Guias ou colares: Suas guias ou colares podem ser de vários tipos, tais como: confeccionadas com coquinhos; de contas de porcelana vermelhas e pretas, ou vermelhas e brancas, ou ainda pretas e brancas; de sementes (olho de cabra, olho de boi, obi branco); de pedras; de palha da costa com búzios.



Elementos de trabalho: Baralho, moedas, dados, palitos, palha da costa, pedras, pembas, sumos de ervas, barbante, linhas, fitas, búzios, sementes, côco, água de côco, terra, dendê, azeite de oliva.



Ervas: Quebra demanda; arruda; guiné; comigo-ninguém-pode; aroeira; palha da costa; levante; anis estrelado; algodoeiro; tapete de Oxalá; alecrim; jasmim; manjericão roxo; folha de bambu; folhas de laranja e de limão; folha de café; folha e semente de cacau; folha de beterraba; rama de cenoura; café em grão e em pó; urucum; folha de pitanga; folhas de palmeira e de coqueiro; folha de bananeira; tiririca; barba de velho; raízes; cipós; cabelo e palha de milho; louro; losna; agrião; coentro; orégano; noz moscada; pára-raio; espada de São Jorge; espada de Santa Bárbara; lança de São Jorge; mentas (vários tipos de hortelã); boldos (vários tipos); ervas amargas; salsinha.



Sementes: Olho de boi, olho de cabra, obi branco (ou noz de cola).



Fumo/defumação: Charutos, cigarrilhas, fumo de corda, ervas enroladas na palha.



Pedras: Variam, dependendo da forma de manifestação da Entidade Malandro.



Para os que vêm como Baianos: Quartzo branco leitoso; Cristal; Jaspe Vermelho; Granada; Citrino; Pirita; Topázio Imperial. No geral, as pedras brancas, vermelhas e amarelas- embora eles possam manipular muitas pedras diferentes, de acordo com a necessidade do trabalho.



Para os que vêm na Esquerda: Ágata Preta, Turmalina preta, Vassoura da Bruxa, Ônis, Quartzo Fumê, Mica Preta.



Para os curadores: Pedras brancas (Quartzo Branco transparente e leitoso, Calcita Ótica, Topázio Branco); Pedras índigo (Lápis-Lazúli, Sodalita) e ou Pedras violetas (Ametista, Cacochinita, Fluorita Lilás).



FONTE: Angélica Lisanty, livros: “Os Cristais e os Orixás”, 2088, páginas 83/85; “Elixir de Cristais”, 2006, páginas 101/113, ambos da Madras Editora.



Flores: Rosas e cravos vermelhos e brancos; flores vermelhas e amarelas.



Oferendas:



1- Um côco verde (separar a água); ervas; flores vermelhas e ou brancas; 7 linhas brancas e 7 pretas; 7 fitas vermelhas e 7 amarelas; frutas; 7 moedas de qualquer valor; 7 velas bicolores branco/preto. Forrar o chão com as ervas. Retirar a água do côco e reservar. Abrir o côco, tirando uma tampa, e colocar dentro dele as moedas. Colocar o côco no meio das ervas e em volta dele dispor, sempre em círculos: as flores; as frutas; as linhas, alterando as cores (branco/preto) e as fitas, também alternando as cores (vermelho/amarelo). Circular tudo com a água do côco. Em torno, firmar as velas e pedir prosperidade espiritual e material, em todos os sentidos. Quando as velas queimarem, retirar todo o material, caso a oferenda seja feita na Natureza.



2- Lascas de uma rapadura; lascas de fumo de rolo; um copo de melado de cana (ou oito pedaços pequenos de cana); um punhado de fubá; 7 sementes de olho de boi; 7 sementes de olho de cabra; 1 vela bicolor branco/preto; uma folha de bananeira lavada e cruzada com azeite de oliva. Abrir a folha de bananeira e sobre ela dispor as lascas de rapadura e as de fumo. Por cima, ir derramando o melado, fazendo círculos no sentido horário. Se optar por pedaços de cana, eles devem ser colocados da mesma forma. Circular com as sementes de olho de boi e depois com as de olho de cabra. Derramar o fubá sobre toda a oferenda, com a mão direita, em círculos horários. Na frente, firmar a vela e pedir limpeza, equilíbrio energético e cura (espiritual, mental, emocional e/ou física). Recolher tudo quando a vela queimar, se fizer a oferenda na Natureza.



Incensos: Quebra demanda, sete ervas.



Saudação: Salve os Malandros!



Cozinha ritualística:



1- Carne seca com abóbora: Dessalgar a carne seca, cortar em cubos e cozinhar. Guardar a água do cozimento. Refogar a carne já cozida com um pouquinho de dendê, azeite de oliva, cebola, alho, tomate e pimentão amarelo picados. Reservar. Na água do cozimento da carne, colocar para cozinhar pedaços de abóbora cortada em cubos, com o cuidado de não deixar amolecer demais. Juntar os pedaços de abóbora cozidos ao refogado da carne, misturar delicadamente e refogar por uns minutos, em fogo mínimo, com a panela tampada. Temperar com molho de pimenta, orégano e cheiro-verde (temperos a gosto).



2- Farofa de carne seca – Ingredientes: 350 g de carne seca; um pouquinho de dendê; 1 cebola grande picada; 2 dentes de alho amassados; 2 xícaras de farinha de mandioca torrada; cheiro-verde picadinho; 2 pimentas vermelhas picadinhas (retirar as sementes); orégano. Preparo: Deixar a carne seca de molho, de véspera, e ir trocando a água. Cozinhar e desfiar quando ela estiver já fria. Numa panela média, aquecer o dendê e dourar o alho e a cebola. Juntar a pimenta e refogar mais um pouquinho. Acrescentar a carne seca, deixando por alguns minutos, em fogo baixo e com a panela tampada, para que a carne absorva o sabor dos temperos. Juntar a farinha, mexer e retirar do fogo. Acrescentar os temperos.



3- Farofa de farinha de milho amarela com carne seca, mandioca, abóbora e pimentas .



4- Doce de abóbora feito com pedacinhos de gengibre e enfeitado com lascas de rapadura.

5-Cocada mole; doce de côco; doce de abóbora com côco.



6- Bolinhos de tapioca: Ralar um côco seco, juntar a água do côco, triturar bem no liquidificador. Colocar a tapioca de molho nessa mistura, até inchar. Fazer os bolinhos e grelhar ou assar. Servir com lascas de rapadura.



7-Feijão preto cozido sem sal e coberto com côco seco fatiado e milho amarelo.



UMA VISÃO de FORA da RELIGIÃO de UMBANDA



Texto: O Arquétipo do malandro: Zé Pelintra como imagem do “trickster” nacional- POR IGOR FERNANDES- FONTE: O site da Rubedo (Estudos Interdisciplinares de Psicologia Analítica)



Zé Pelintra: origem e história― Personagem bastante conhecido, seja por frequentadores das religiões onde atua como entidade, seja por sua notável malandragem, Seu Zé tem sua imagem reconhecida como um ícone, um representante, o verdadeiro estereótipo do malandro, ou porque não dizer, da malandragem brasileira e mais especificamente, carioca. Não raro, encontram-se pessoas que o conhecem de nome e pela malandragem, mas não sabem que este é uma entidade do Catimbó e da Umbanda; outras já o viram retratado inúmeras vezes, mas não sabiam que se tratava de “alguém” e também encontraremos os que o conhecem apenas como entidade e desconhecem sua origem e história, estes, porém, menos frequentes. O fato é que a figura de Zé Pelintra, de uma forma ou de outra, permeia o imaginário popular da cultura brasileira e é retratada de diversas maneiras. Por exemplo, como nos explica Ligiéro:



Na década de 1970, Chico Buarque cria sua Ópera do Malandro. Para o cartaz do espetáculo teatral, o artista Maurício Arraes utiliza a figura de Zé Pelintra mesclada aos traços faciais de Chico Buarque em um número típico de minstrelsy norte-americano, tal como protagonizado no teatro de revista e no cinema por Al Johnson [...] (LIGIÉRO, 2004, p. 142).



No início da década de 1990, o cineasta Roberto Moura lança “Katharsis: histórias dos anos 80”, com Grande Othelo no papel de Zé Pelintra, e este seria o último longa-metragem desse emblemático ator negro, lembra Ligiéro (2004). Até mesmo a figura de Zé Carioca, personagem de Walt Disney, teria sido inspirado em Seu Zé. Ligiéro conta a história:



Em 1940, Walt Disney fez uma viagem ao Brasil como parte do programa “política da boa vizinhança” criado pelo governo norte-americano – para pesquisar um novo personagem tipicamente brasileiro. Na ocasião, foi levado com sua equipe de desenhistas para conhecer a Escola de Samba da Portela. Naquela noite, a nata do samba reuniu-se, como fizera alguns anos antes com a visita de Josephine Baker ao Rio de janeiro. Lá estavam as figuras mais importantes do mundo do samba – Cartola, Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres... Conta-se que foi Paulo – falante e elegante – quem realmente impressionou Walt Disney e o inspirou a criar o personagem Zé Carioca. Na ocasião, o sambista não estava todo de branco, tinha apenas o paletó nessa cor, mas foi o suficiente, pois essa peça passou a ser a marca de Zé Carioca [...] (Ibidem, p. 108).
E mais adiante:



O Zé Carioca do Disney, que passou a ser um símbolo do Rio de janeiro e do próprio Brasil no exterior, fuma charuto e tem um guarda-chuva que ele maneja como uma bengala. Parece que quem esteve na Macumba da Mãe Adedé foi Walt Disney, e não Josephine Baker, e que lá viu o Zé Pelintra incorporado, pois a maneira gingada de andar e o jeito irônico de seu personagem foram realmente captados da alma do nosso malandro. É difícil acreditar que ele não soubesse também que o papagaio é um dos animais consagrados a Exu (Ibidem, p.109).



Seu Zé está sempre representado, seja em figuras desenhadas, seja em estatuetas, de terno branco de linho ― e veremos que provavelmente para a malandragem não era à toa, segundo Ligiéro (2004), ― chapéu de palhinha com uma faixa vermelha contornando-o, gravata vermelha e sapato bicolor. Essa é sua representação na Umbanda, o típico malandro – figura que possivelmente ganhou esse estereótipo a partir da figura de Zé Pelintra.

O terno de linho branco tornou-se o símbolo do malandro por ser vistoso, de caimento perfeito, largo e próprio para a capoeiragem. Para o malandro, lutar sem sujá-lo era uma forma de mostrar habilidade e superioridade no jogo de corpo. Ao contrário dos executivos de sua época, que tentavam imitar os ingleses, o malandro não usava casimira, tecido pouco apropriado para o clima úmido dos trópicos. Seu Zé destacava-se pela elegância e competência como negro [...]. Numa época em que os negros e brancos viviam praticamente isolados, apesar da existência de uma numerosa população mestiça nas grandes cidades brasileiras, vamos observar que a figura do malandro torna-se representativa da dignidade do negro deixando para trás a idéia de um negro “arrasta-pé”, maltrapilho ou simples trabalhador braçal (Ibidem, p. 101-2).
Mas afinal, qual a origem de nosso personagem?



Seu Zé torna-se famoso primeiramente no Nordeste seja como frequentador dos catimbós ou já como entidade dessa religião. O Catimbó está inserido no quadro das religiões populares do Norte e Nordeste e traz consigo a relação com a pajelança indígena e os candomblés de caboclo muito difundidos na Bahia.



Conta-se que ainda jovem era um caboclo violento que brigava por qualquer coisa mesmo sem ter razão. Sua fama de “erveiro” vem também do Nordeste. Seria capaz de receitar chás medicinais para a cura de qualquer mal, benzer e quebrar feitiços dos seus consulentes.



Já no Nordeste a figura de Zé Pelintra é identificada também pela sua preocupação com a elegância. No Catimbó, usa chapéu de palha e um lenço vermelho no pescoço. Fuma cachimbo, ao invés do charuto ou cigarro, como viria a ser na Umbanda, e gosta de trabalhar com os pés descalços no chão.



De acordo com Ligiéro (2004), Seu Zé migra para o Rio de Janeiro, onde se torna, nas primeiras três décadas do século XX, um famoso malandro na zona boêmia carioca, a região da Lapa, Estácio, Gamboa e zona portuária.



Nessa época, período de desenvolvimento urbano e industrial, a vida da população afrodescendente foi profundamente transformada. Havia um fluxo migratório intenso de sertanejos em direção à capital nacional em busca de melhores condições de vida. Nascem as primeiras favelas, empurrando para os morros os migrantes dos antigos cortiços derrubados para a Reforma Passos.



Nesse contexto, Seu Zé poderia ter conseguido fama como muitos outros, pela sua coragem e ousadia, obtendo aceitação pelos que se encontravam em situação como a sua. Segundo relatos históricos, Seu Zé era grande jogador, amante das prostitutas e inveterado boêmio.



Quanto à sua morte, autores discordam sobre como esta teria acontecido. Afirma-se que ele poderia ter sido assassinado por uma mulher, um antigo desafeto, ou por outro malandro igualmente perigoso. Porém, o consenso entre todas essas hipóteses é de que fora atacado pelas costas, uma vez que pela frente, afirmam, o homem era imbatível.



Acontece com Zé Pelintra um processo inverso ao que aconteceu com outros famosos malandros. Muitos destes foram esquecidos ou enterrados como indigentes. Foram lendários para uma geração. Entretanto, com o passar do tempo acabaram sendo esquecidos. “Para Zé Pelintra a morte representou um momento de transição e de continuidade”, afirma Ligiéro, e passa a ser, assim, incorporado à Umbanda e ao Catimbó como entidade, “baixando” em médiuns em cidades diversas que nem mesmo teriam sido visitadas pelo malandro em vida, como Porto Alegre ou Nova York, por exemplo.



Todo esse relato em última instância não tem comprovação histórica garantida e o importante para nós nesse momento é o mito contado a respeito dessa figura.

Incorporação na Umbanda como Exu- Seu Zé é a única entidade da Umbanda que é aceita em dois rituais diferentes e opostos: a “Linha das Almas” (caboclos e pretos-velhos) e o ritual do “Povo de Rua” (Exus e Pombas-Giras), definitivamente outro tipo de freguesia.

Enquanto em um existe [...] uma ética cristã com propósitos de cura dos males do corpo e proteção espiritual pela invocação tanto dos guias espirituais afro-ameríndios quanto das entidades máximas do catolicismo, incluindo o Espírito Santo, Jesus Cristo, a Virgem Maria e muitos outros santos desse populoso panteão, [...] no outro [...] a chamada moral cristã é deixada de lado permitindo que se dê vazão aos instintos primordiais na procura de soluções para os problemas terrenos oriundos de pequenezas cotidianas (LIGIÉRO, 2004, p. 37-38).



Como afirma Birman (1985), “povo de rua lembra facilmente a massa anônima que circula pela cidade, os trabalhadores, as pessoas comuns que ocupam o espaço público nas suas idas e vindas”. Na expressão “povo de rua”, fica claro o binômio casa-rua como opostos. O primeiro marca as relações familiares e o segundo o sem-domínio, dando a sensação de incontrolável, o marginal. E é dessa maneira que freqüentemente são vistos os Exus principalmente na Umbanda. “Representam, pois, o avesso da civilização, das regras, da moral e dos bons costumes”, continua. A partir disso, Birman (1985) nos traz uma visão também interessante: “a identificação do exu com o domínio da rua gerou um tipo que é muito popular na umbanda: o exu Zé Pilintra, figura gêmea do malandro carioca”.



No ritual do Povo de Rua, o clima é sempre de festividade. É marcado pela dubiedade esse tipo de ritual, pois embora as pessoas que lá estão estejam à procura de uma consulta séria para resolução de seus problemas, acabam por participar do clima festivo e alegre que é constituído, entre outras coisas, de danças e bebidas. Nessa cerimônia, não só os médiuns incorporados dançam com seus guias, mas também os clientes e/ou fiéis (ou mesmo assistência, como são chamadas as pessoas que freqüentam uma gira na Umbanda seja para só ver seja para consultar um espírito) são convidados a dançar e, se for íntimo de alguma entidade, até beber com esta. E nesse clima são realizadas as consultas, no meio de muita música e alegria, por mais séria que seja a questão do consulente. Como bem observou Ligiéro (2004), “Seu Zé, com seu humor iconoclasta, nos lembra de que na origem da tragédia havia Dionísio, era preciso brincar com a vida para, assim, combater com eficácia a própria morte”.



Zé Pelintra e o arquétipo do trickster― Antes de começarmos a discorrer sobre estas duas imagens, seria prudente dizer que o presente artigo não tem pretensão em reduzir o malandro Zé Pelintra em um arquétipo do inconsciente coletivo. Fazê-lo seria destruir ou negar toda a diversidade de visões de mundo que o ser humano construiu ao longo de sua história. Seria tentar atribuir valores a essa diversidade em detrimento de uma imaginável e inexistente suposta classificação de que culturas são as “melhores” e quais se aproximam mais da “realidade”. No entanto, a realidade de uma cultura certamente não é a mesma de outra. Inclusive dentro da mesma cultura podemos achar visões de mundo diferente. Não existe olhar sem tradução, não existe olhar neutro que seja isento o suficiente de valores para julgar quais elementos culturais prestam ou não dentro de uma determinada sociedade.



É interessante também notar como se encontram resistências no Brasil, principalmente por parte das elites (“intelectuais e pessoas esclarecidas em geral”), em assumir ou assinar, como prefere Segato, um lugar às tradições e ao pensamento afro-brasileiro que, de acordo com a pesquisadora, poderiam estar gerando um pensamento para o país. Muito embora, em algumas ocasiões, essa mesma elite faça uso dessas tradições.



Como estrangeira, [...], estive muitas vezes diante da clara evidência do menosprezo com que intelectuais e pessoas esclarecidas em geral tratam a tradição religiosa afro-brasileira. [...] O deslumbramento permanente e sempre renovado de pesquisadores e cronistas estrangeiros com estes cultos contrasta com sua falta de prestígio, na atualidade, na cena nacional. Esse menosprezo das elites pode ser um efeito do racismo à brasileira, isto é, um racismo marcado pelo medo da familiaridade (SEGATO, 1995, p. 15).



Segato (1995) explica esse racismo à brasileira diferenciando-o do racismo nórdico, por exemplo, que exclui o negro justamente por percebê-lo como um “outro”, alguém bruscamente diferente e desconhecido. Aqui, entre nós, o negro é discriminado na vida pública justamente pela razão oposta: teme-se ser “o mesmo”, “a ameaça é a possibilidade de desmascaramento da mesmidade”, conclui a autora. Seria, então, essa a razão pela qual a mitologia dos orixás passa totalmente desconhecida para a maioria dos brasileiros que, ao invés de procurar conhecê-la e familiarizar-se com esse sistema de pensamento, prefere embarcar nas águas “brancas” da mitologia greco-romana, celta ou ainda, viking. Não que essas mitologias não tenham seu valor ou sejam pobres, e aqui mais uma vez ressalta-se a inutilidade da atribuição de valores às culturas, muito pelo contrário, são mitologias também ricas e complexas, mas esses sistemas de pensamento dizem mais respeito aos povos onde foram propagados do que a nós. Zeus tinha um significado muito específico na Grécia e provavelmente não nos chegou com o mesmo significado, pois não vivemos as mesmas questões humanas e não as concebemos como os gregos as concebem e vivem. Quando esse mesmo deus é “importado” pelos romanos, apesar da ponte que se faz na mitologia “greco-romana”, chegou lá com atributos muito específicos também para o povo romano, que inclusive o chama agora de Júpiter. Quando essa tradição chega ao Brasil, já chega impregnada de traduções em cima de traduções, valores sobrepostos a outros e, frequentemente, Zeus e Júpiter se tornam o mesmo deus, pasteurizado. Não captamos a essência nem de Zeus e nem de Júpiter. Só podemos saber deles através de livros que muitas vezes não têm uma assinatura confiável.



Por que então não falamos de Zé Pelintra, Ogum ou Iemanjá, ao invés de nos reconhecermos em Hermes, Marte ou Afrodite, só pra citar alguns “reconhecíveis”? Estes sim estão impregnados na cultura brasileira, fazem parte do nosso dia-a-dia, estão “vivos” e “atuantes” na nossa sociedade. Muito mais fácil reconhecer Zé Pelintra nos bares e cabarés e casas de jogos do nosso país do que Hermes na Lapa carioca. Os gregos deviam ter alguma forma de se comunicar com seus deuses. Os gregos também faziam oferendas aos seus deuses. Mas se quisermos “falar” com um deus grego, talvez fique difícil pela escassez de canais de comunicação e, provavelmente, não saberíamos como fazê-lo. Um grego talvez fosse necessário no mínimo para uma iniciação em sua cultura. No entanto, “dialogar” com Zé Pelintra, Ogum, Iemanjá ou qualquer outra entidade do panteão afro-brasileiro, sejam estas os Orixás do Candomblé ou as entidades da Umbanda como caboclos ou pretos-velhos, já é muito mais acessível e aqui não se está falando de, necessariamente, ir a um terreiro conversar com uma entidade dessas incorporada em um médium, mas sim de reconhecer suas “caras” no cotidiano da nossa cultura.



Porém, devemos tomar cuidado para não pasteurizar nossos próprios deuses. Sobre isso Segato constata:



Não ignoro que tem havido um certo grau de banalização e vulgarização dos conhecimentos próprios do mundo religioso afro-brasileiro. Descrições superficiais e estereotipadas, uma divulgação massiva e jornalística dos aspectos mais aparentes e folclorizados da religião raramente acompanhados dos conhecimentos sutis e complexos que lhes servem de suporte; traduções esquemáticas e redutoras do sistema dos “orixás” para outros sistemas de arquétipos como, por exemplo, os signos do zodíaco ou o panteão dos deuses olímpicos. [...] Mas esse barateamento não é exclusivo desse mundo, e se deu também, por exemplo, com as tradições orientais, assim como as esotéricas (Ibidem, p. 16-7).



Como exemplo, podemos citar o yoga que na Índia é um sistema filosófico, um modo de vida, mas que no Brasil e demais países ocidentalizados virou, de maneira geral, ginástica.



Portanto, a proposta desse trabalho está em oferecermos ao Zé Pelintra o posto de representação do trickster no Brasil. Se por trickster está entendido ser, como o próprio Jung designou, aquele que subverte a ordem; o embusteiro; o trapaceiro; a sombra social, então estamos falando de Zé Pelintra. E mais uma vez aqui não se trata da crença numa ou outra religião, mas sim da figura, da imagem que este representa, pois como foi visto, existem as pessoas que sabem ou já ouviram falar em Seu Zé e suas histórias, mas não sabiam que este era uma entidade das religiões afro-ameríndias, para que não fique de fora o Catimbó, berço dessa personalidade. Não se trata, tampouco, de fazermos a tradução de trickster por Zé Pelintra ou ainda que se fale em arquétipo do Zé Pelintra, mas sim de tê-lo como imagem desse arquétipo, pois este é mais próximo de todos nós e para brasileiros é muito mais fácil reconhecê-lo, seja para fins didáticos seja para ter simplesmente a imagem, do que a qualquer outra figura que se possa querer pôr em seu lugar. Seu Zé tem em sua personalidade todas as características do trickster. Como nos mostra Ligiéro (2004), Zé Pelintra tem a característica “de assumir quase simultaneamente o sagrado e o profano, o sério e o sacana”, características essas que muitas vezes são usadas para desmoralizá-lo e classificá-lo como vulgar. Mas o que é o trickster senão também o vulgar?

O malandro encarnado por Zé Pelintra, explica Ligiéro, “se coloca miticamente como um quase-herói, um vencedor que triunfa ao burlar a ordem estabelecida [...]” e implementa a sua própria ordem caótica. E o autor faz então, uma pergunta chave:

[...] se comprovadamente, os malandros desapareceram, ou ainda, se tiveram um final no mínimo trágico, fica a pergunta: Como permanecem de forma insistente no inconsciente do povo brasileiro manifestando aspectos dessa energia em vários campos das atividades religiosas, esportivas e artísticas? (LIGIÉRO, 2004, p. 177).



E respondendo a sua própria pergunta, Ligiéro fala no arquétipo do malandro que nada mais é do que o nosso conhecido trickster “à brasileira”:



Creio que a permanência do modelo clássico do malandro, como algo superior das culturas negras e mestiças brasileiras, seja também decorrente do trabalho político e filosófico de admiradores e guardiões da cultura afro-brasileira. [...] Percebemos que artistas, esportistas e religiosos foram capazes de absorver o arquétipo do malandro e seu arsenal mítico sem assumirem a personalidade de marginal, abdicando dos seus traços politicamente incorretos, como o nefasto machismo e o seu aspecto agressivo e arruaceiro. Eles fizeram de sua arte/religiosidade uma articulação do mundo ancestral africano com a pós-modernidade (Ibidem, p.177-8).



Ou seja, complementando, estaríamos, assim, falando de como pode se dar a vivência desse arquétipo do malandro hoje. Pois, como se considera para qualquer outro arquétipo, a identificação cristalizada com o mesmo é que se torna perigosa. Em outras palavras, não precisamos ser essencialmente embusteiros, trapaceiros ou subvertedores da ordem, por exemplo, a todo o momento, para ter a vivência do trickster, ou como estamos preferindo enfatizar ao longo desse trabalho, da malandragem.



Em tempos de descrença nos partidos políticos, nas religiões e revoluções, Zé Pelintra, “em suas múltiplas versões, tem se mostrado um guia maleável e exemplar”. Apesar de pouco conhecido das elites – ou ignorado – e combatido pelas religiões de poder, podemos ver sua “influência” em vários setores da população. Parece que alguns políticos cristalizaram a identificação com a pior parte da malandragem se esquecendo que essa, quando trapaceava era em favor de uma classe que estava (e continua) sendo oprimida por essa mesma elite. Por outro lado, os desfavorecidos ainda recorrem à malandragem para tentar a sobrevivência em um país onde a mobilidade social é quase nula e freqüentemente encontram em Seu Zé e Ogum, o Orixá guerreiro, seus santos de devoção. O fato é que “essa entidade”, Ligiéro diz,



[...] energiza as almas convalescentes de gente do povo e da classe média, dos milhares de desempregados e dos batalhadores da economia informal: camelôs, carregadores, baianas, flanelinhas, guardas de trânsito, pivetes, vendedores de balas nos sinais, prostitutas jovens e velhas... (Ibidem, p.185).



E seja ela entendida como um santo, força ou arquétipo, é imprescindível notar o quão brasileira ela é, nos falando assim quem somos, de onde viemos e, quem sabe, abrindo nossos caminhos.

Fonte:www.seteporteiras.org.br

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ALTAR DE ZÉ PELINTRA.

Altar na altura de 1,80m.
Toalha branca com bordas vermelhas,ou vermelhas de bordas brancas.
1 Imagem de Zé Pelintra.
1 Vela de 7 dias vermelha/branca(bicolor) e 1 protetor de velas.
1 vaso com água.
1 cravo vermelho.
1copo com a bebida usada pelo Seu Zé Pelintra (batida de coco,cerveja,wisk,conhaque,pinga,etc...)
1 quartinha branca de louça com água.
3 pedras (cristal,jasper vermelho e hematita-Ogum) ou (cristal,jasper vermelho e turmalina negra-Obaluaiê).
1 cinzeiro com 1 cigarro de filtro branco ou de filtro vermelho.

Colocar as pedras dentro da quartinha,acender o cigarro e colocar no cinzeiro,a bebida no copo,o cravo no vasinho com água,em seguida elevar a vela de sete dias acima da cabeça segurando-a com a mão esquerda e irradiando com a mão direita,pedir a Deus que consagre a vela e ofereça ao Seu Zé Pelintra pedindo-lhe que traga bençãos,proteção,prosperidade,paz,saúde,sorte,abertura de caminhos .Agradeça sempre por tudo que conquistar!

Obs:Esse Ritual deve ser feito toda a vez que a vela acabar,trocar a água da quartinha,a vela branca e vermelha pode ser substituida por uma vela vermelha/preta(bicolor)quando houver a necessidade de quebrar ou cortar energias negativas.



Autor:Davi P.Bucheb.


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Oração e Prece ao Seu Zé Pelintra.

PRECE AO SEU ZÉ PELINTRA.



” Salve Deus, Pai Criador de todo o Universo, Salve Oxalá, força divina do amor, exemplo vivo de abnegação e carinho. Bendito seja o Senhor do Bonfim. Bendita seja a Imaculada Conceição. Salve Zé Pilintra, mensageiro de luz, guia e protetor de todos aqueles que em nome de Jesus praticam a caridade. Dai-nos Zé Pilintra, o sentimento suave que se chama misericórdia. Dai-nos o bom conselho. Dai-nos a proteção quando pederdes. Dai-nos o apoio, a instrução espiritual de que necessitamos para darmos aos nossos inimigos o amor e a misericórdia, que lhe devemos por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que todos os homens sejam felizes na terra e possam viver sem amarguras, sem lágrimas e sem ódios.


Tomai-nos, Zé Pilintra, sob a vossa proteção; desviai de nós os espíritos atrasados e obsessores, enviados pelos nossos inimigos encarnados e desencarnados e pelo poder das trevas. Iluminai nosso espírito, nossa alma, nossa alma, nossa inteligência e o coração, abrasando-nos nas chamas do vosso amor por nosso Pai Oxalá. Valei-me, Zé Pilintra, nesta necessidade, concendendo-me a raça de vosso auxílio junto a Nosso Senhor Jesus Cristo, em favor deste pedido que faço agora (faz-se o pedido).


E que Deus, nosso Senhor, em sua infinta misericórdia vos cubra de bênçãos e aumente a vossa luz e vossa força, para que mais possas espalhar sobre a Terra a caridade e o amor de Nosso Senhor Jesus Cristo”.


ORAÇÃO SENHOR ZÉ PILINTRA


Senhor Zé Pilintra, mensageiro de luz da nossa


Santa Umbanda e de seus Orixás. Permitido por Deus,


fazes parte daqueles que têm por missão proteger e


defender as criações divinas e suas vibrações.


Permiti, Senhor Zé Pilintra, que com vossos


conhecimentos, possa eu ter meus caminhos abertos,


meu corpo fechado e meu espírito defendido de todas


as más vibrações.


Conto com vossa proteção e ajuda, afim de não


cair nas tentações e armadilhas do mundo terreno.


CREIO NA SAGRADA UMBANDA


CREIO NOS PODERES DE DEUS


CREIO NA MAGIA DOS EXUS


SARAVÁ UMBANDA


SARAVÁ ESTRADA


SARAVÁ SENHOR ZÉ PILINTRA


EXU DE LEI QUE ME GUARDA


Pela Médium Jovelina de Iansã


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PONTOS CANTADOS DE ZÉ PELINTRA.


Zé Pilintra, Zé Pilintra



Boêmio da madrugada


Vem na linha das Almas


e também na encruzilhada


O amigo Zé Pilintra


que nasceu lá no sertão


Enfrentou a Boêmia


Com seresta e violão


Hoje na lei de Umbanda


Acredito no Senhor


Pois sou seu filho de fé


Pois tem fama de doutor


Com magias e mirongas


Dando forças ao terreiro


Saravá seu Zé Pilintra


O amigo verdadeiro.
 
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De terno branco, seu punhal de aço puro



O seu ponto é seguro


Quando vem pra trabalhar


Segura o nego, que esse nego é zé pilintra


Na descida do morro ele vem trabalhar


De terno branco, seu punhal de aço puro


O seu ponto é seguro


Quando vem pra trabalhar


Segura o nego, que esse nego é zé pilintra


Na descida do morro ele vem trabalhar.


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Valei-me Senhora Aparecida


Porque tu és a grande padroeira


Valei-me Senhora do Amparo


Estrela guia do meu povo da Bahia


Valei-me Senhor do Bonfim


Que dos Baianos és o padroeiro


Valei-me Orixá Formoso


Que Gira Gira nesse terreiro


Quem vem na frente é Zé Pelintra


Com seu chapéu de lado


Seu lenço encarnado


Vem salvar os filhos de Nazareno


Pra dar mais forças nesse Terreiro.


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Seu Zé



Grupo Redenção




Seu Zé


Ele é mestre na aruanda


Saravá a sua banda


Vem chegando devagar


Quando ele chega, chega sempre sorridente


Com um cigarro entre os dentes


De branco para amenizar


O desamor que existe nessa terra


Sabe nos livrar da guerra


E sem mais quer nos levar


Não há demanda que possa lhe derrubar


Ele é cabeça feita tem um nome a zelar


Mas desaforo não aceita


Nunca se deixa levar


Ele sempre ajuda a quem nele tem fé


Saravá seu Zé


É na palma da mão e cantando com fé


Saravá seu Zé


Saravá seu Zé


Saravá seu Zé


Saravá seu Zé


Ele sempre ajuda a quem nele tem fé (fala seu Zé).
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Trem das onze .(ótimo para cantar na chamada pros Malandros).



(Adoniram Barbosa)




Quas, quas, quas, quas, quas, quas



Faz caringundum


Faz caringundum


Faz caringundum


Quas, quas, quas, quas, quas, quas


Faz caringundum


Faz caringundum


Faz caringundum


Não posso ficar


Nem mais um minuto com você


Sinto muito amor


Mas não pode ser


Moro em Jaçanã


Se eu perder esse trem


Que sai agora às onze horas


Só amanhã de manhã


E além disso, mulher


Tem outras coisas


Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar


Sou filho único


Tenho minha casa pra olhar


Eu não posso ficar


Não posso ficar


Nem mais um minuto com você


Sinto muito, amor


Mas não pode ser


Moro em Jaçanã


Se eu perder esse trem


Que sai agora às onze horas


Só amanhã de manhã


E além disso, mulher


Tem outras coisas


Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar


Sou filho único


Tenho minha casa pra olhar


Sou filho único


Tenho minha casa pra olhar


Quas, quas, quas, quas, quas, quas


Faz caringundum


Faz caringundum


Faz caringundum


Quas, quas, quas, quas, quas, quas


Faz caringundum


Faz caringundum


Faz caringundum .