Crianças e o Papai do Céu
Por Fernando Sepe
_ ... Bem, como eu estava dizendo, os encarnados são um pouco complicados sabe, têm alguns que não acreditam nem em Olorum... _ dizia o velho Antônio.
_ Como não vô? Eles num acreditam no papaiii-mamãeee-do-céu? Ué, você num ensinou para eles que “O Papai” mora dentro do coração de cada um? _ perguntou uma menininha de nome Catarina.
_Ensinei minha filha, mas sabe, na matéria eles têm tantos problemas, preocupações, dificuldades, que eles não conseguem nem mesmo escutar o próprio coração. A intuição e tudo isso que para vocês aqui é muito claro, para eles não passam de fantasia, misticismo, bobagens...
_Ah, eles são bobocas mesmo, e depois vocês me dizem que um dia eu vou ser igual, vou ter que en ... en ... como é mesmo vô?
_Encarnar! _ Respondeu Joãozinho, outra criança que estava na aula e que não saía nunca de perto do vô.
_Isso, en – car – nar! Eu não quero vô! Não quero esquecer do Papai do céu! Eu amo tanto Ele. _ Disse Catarina quase chorando.
_Minha filha, você não precisa ter medo, afinal também existem muitos encarnados bondosos, que crêem no divino Criador e por Ele trabalham avidamente. Além do mais, ainda vai demorar um bocado para você encarnar.
_ Ufa, ainda bem! _Catarina parecia aliviada.
_ É meus pequenos, é difícil e triste quando muitos dos que a gente mais ama, esquecem de Deus na carne e se entregam a coisas pouco louváveis a seus divinos olhos. E então eles fecham – se a nossa inspiração, e nada mais nos resta a não ser se afastar e esperar... _ e o velho Antônio assumiu uma feição tristonha.
_Mas o que é isso aqui? Antônio, você não consegue colocar ordem nos pequenos? _ disse uma rechonchuda negra de traços bondosos, que chegava na sala de aula, trazendo algumas xícaras de chá.
_Ordem é comigo vó “Dita”, pode deixar! _ Disse Jorginho, o maiorzinho daquelas crianças que era “fanático” em colocar tudo em ordem.
_Não, num precisa não Jorginho! Deixa que já está tudo normal... _ se antecipou a vó “Dita” antes que ele fizesse alguma de suas loucuras:
_Vim trazer um chá, colhido aqui do canteiro da mãe Jurema. E você em Antônio, que vergonha, brincando que nem um mocinho...e não me chama para participar! Hahaha...
A Velha “Dita” chamava – se Benedita e junto com Antônio eram os responsáveis por uma escola que tinha como objetivo dar instruções a todo um grupo de encantados da natureza, que trabalhavam dentro da religião de Umbanda, onde são conhecidos como a "linha das Crianças". Eles eram muito puros e estavam ainda muito ligados aos reinos da natureza e suas divindades Orixás, assim tinham muita dificuldade de entender o comportamento humano. Além disso, esse convívio com os encarnados um dia facilitaria, quando as crianças também tivessem que encarnar.
_Bem por hoje chega. Amanhã vamos ter trabalho em uma Casa de Umbanda. Vai ser gira dos irmãos caboclos, mas quem quiser ir para conhecer e estudar um pouco mais os encarnados podem vir com a gente. _disse vó Dita.
Todos foram embora, mas as crianças secretamente se reuniram com a vó Dita e pensaram em fazer uma surpresa, no outro dia, para os encarnados e desencarnados...
e ENTÃO...
Gira no terreiro, correria na parte física e espiritual. Todo mundo tomando seus postos, nos astral diversos espíritos sendo encaminhados, curados mesmo antes do começo dos trabalhos, na parte física ascende – se à defumação, afina – se os atabaques, etc. Antônio como um dos mentores da casa coloca – se ao lado do congá.
Os trabalhos começam: hino da Umbanda, defumação, bater cabeça, etc. Nesse dia o dirigente chama a presença de mãe Iemanjá no terreiro. Os médiuns são tomados por suas naturais, belíssimas que cantam e dançam, trazendo paz, harmonia e amor a todos. O velho Antônio que tem um carinho especial pela encantadora “sereia do mar” se emociona e chora. Às vezes achamos que apenas os médiuns se emocionam com a manifestação dos Orixás, mas isso não é verdade, os guias também.
Chega o momento da incorporação da linha de trabalho, os caboclos naquele dia é que iriam dar passe. Mas algo estranho acontece. Um portal luminoso abre – se e as crianças começam a chegar e envolver todo o ambiente. O dirigente percebe a diferença, e como sempre está aberto ao que o “alto” determina, resolve incorporar as crianças mesmo. E elas chegam fazendo a festa que todos conhecemos tão bem.
O velho Antônio não sabe o que faz, mas parece que todo mundo já sabia que isso aconteceria, menos ele. De repente ele vê a vó Dita e percebe que isso só podia ser coisa dela mesmo.
A médium de Catarina toma a frente do trabalho, fica de frente para a assistência, e diz:
_Sabe, vocês já viram aquele velhinho bondoso chamado Antônio dizer que o Papaiii-mamãee-do-céu mora no centro dos seus corações, né?! E por que na hora vocês todos fazem cara de “que lindo”, mas depois que saem daqui esquecem de tudo?
_Ou vocês acham que só aqui vocês estão em contato com Deus? Esse templo é a casa do Papai? Claro que é! Mas dentro de vocês também! Até eu que sou criança sei disso, como é que vocês não sabem?
_ A vida de vocês é difícil, eu sei. A gente tá aqui para ajudar, mas tudo depende de vocês. Nem o vô que é muito lindo pode fazer alguma coisa, se vocês não ajudarem a si próprios. Entendem?
_Olha, eu trouxe esse buquê lá do jardim de Aruanda, ele tem flores de todas as cores. Mas vocês não as enxergam. Então eu vou dar para cada um de vocês uma flor, e vou pedir que vocês acreditem e guardem-nas bem no coração, e toda vez que se sentirem tristes, lembrem dessa florzinha, porque nela o Papai do céu também está.
E ela foi dando um beijinho, um abraço e uma palavra de amor para cada uma das pessoas que lá estavam presentes. Quando terminou disse:
_Viram só, eu quero que vocês guardem essa flor de Aruanda. Ela se chama AMOR, e quem a tem no coração tem também o Pai – Mãe Criador de Todos.
As pessoas da assistência estavam todas meio espantadas. Elas conheciam as crianças, achavam – nas engraçadas, mas não esperavam tanta ternura, amor, e porque não, sabedoria daqueles “pequenos”.
E então naquele terreiro a gira que era para ser de caboclo, virou uma festa de criança, e toda assistência brincou junto delas.
As pessoas enfim entenderam, que o AMOR é a presença viva do Criador dentro dos nossos corações.
O velho Antônio sorria e começou a pensar como aquelas crianças tinham uma forma diferente de ver as coisas, uma forma que nós os adultos já não mais tínhamos.
_É Antônio a gente também aprende muito com eles, não é mesmo? Isso foi idéia da Catarina, eu só ajudei. Eles queriam te fazer uma surpresa. Acho que conseguiram...
E aqueles dois espíritos que amavam – se tanto e trabalhavam juntos pelo Criador se abraçaram e foram para um outro lugar, afinal, os pretos – velhos também namoram, mas isso já é outra historia...
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CRIANÇAS
Por Alexandre Cumino
Por força de expressão, também chamadas de “beijada”, “Ibejis”, “Erês”, “Cosminhos” ou, o que é o mais correto, simplesmente crianças. Muito temos a aprender com as Crianças na Umbanda, “se todos tivessem olhos de Crianças não haveriam mais guerras”, “Se nos permitirmos ser mais crianças, em nosso dia-a-dia, seriamos muito mais alegres”, “A pureza das Crianças é cor em nossas vidas”, “O Reino dos Céus pertence às Crianças, aos puros de coração”, “Quando as Crianças estão em terra tudo vira arco-íris” e etc.
Muitos não conseguem ver a importância dos trabalhos das Crianças, não percebem o quanto elas realizam apenas “brincando” e comendo doces. Muitas Crianças que incorporam na Umbanda são encantados que nunca encarnaram, outras encarnaram apenas uma vez. Estão mais ligadas ao plano encantado da natureza do que ao natural humano, Crianças vibram as forças da natureza de forma sutil, mas de forma intensa, assim umas são das cachoeiras, outras das praias, do mar, das pedreiras, das matas... Quando incorporadas elas vibram, o tempo todo, a energia encantada do reino a que estão ligadas, basta entrar na sua sintonia infantil, brincando e comendo doces, que acontece toda uma limpeza espiritual. Energias negativas são absorvidas pelos mistérios que sustentam o trabalho das Crianças pela esquerda e pelo embaixo, enquanto o alto e a direita irradiam a energia que precisamos para nos amparar e mudar nossa visão de mundo. Muitas vezes queremos que nossa vida mude e esquecemos que se nós não mudamos nosso comportamento a vida também não muda. Crianças nos ajudam e muito a renovar nossas atitudes, a começar de novo, como uma criança que começa outra vez sua tarefa no plano material. Crianças estão muito ligadas às cores, ao arco-íris, alegria, desprendimento material e pureza. As Crianças não são “espíritos adultos” se passando por crianças, o que não seria nada natural, e sim “espíritos infantis”, espíritos que ainda não se humanizaram por completo. Estão mais ligadas as realidades anteriores da humana, aos planos encantados da natureza, que “estagiamos” antes de entrar no natural de reencarnações na matéria. Estão em um estágio anterior, por isso podemos considera-las espíritos infantis e elas nos vêem como mais velhos. Mas não tem a mente adormecida, algumas têm lembranças de séculos. Para vir na Umbanda passam por um preparo no astral, elas chamam de escolinha, respondem no grau de guias pois tem muito a dar e realizam um trabalho muito importante. Muitas trabalham acompanhando de perto a nossa infância, enquanto somos crianças elas têm maior acesso e facilidade para nos ajudar pois nossa vibração fica mais próxima à delas. Resumindo crianças trabalham e muito, que para elas é uma alegria. Temos crianças de todos os Orixás, a “força Ibeji” é a força infantil do plano encantado das Crianças, sincretizado com “Cosme, Damião e Doun”, um dos Orixás mais atuantes na corrente das crianças é Oxumaré, pois a ele pertence o “Mistério Crianças” (lembre-se das cores, bexigas e arco-íris), assim como o “Mistério Ancião” pertence a Obaluayê e Nanã, o “Mistério Caboclo” pertence a Oxossi, o “Mistério Baiano” pertence a Iansã e etc. Podemos oferenda-las em praças, parques e cachoeiras, ou um outro local especificado pelas mesmas.
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As Crianças
Por Adriano Camargo
“Papai me mande um balão, com todas crianças que têm lá no céu...
Tem doce papai, tem doce papai, tem doce lá no jardim “
Muita festa e alegria com essa linha de trabalho, dentro dos rituais de Umbanda Sagrada!
É praticamente impossível não reagirmos também com felicidade ao vê-los “brincando” nos terreiros.
Cosminhos, erês, ibejada, ou simplesmente “as crianças” são comemorados neste mês de setembro, sincretizados ao culto católico com São Cosme e São Damião.
Trazem muita força de trabalho e em suas manifestações, traduzem a essência da pureza e simplicidade. Renovadores por excelência são amparados pela linha do Amor (Oxum e Oxumaré), mas não perdem sua essência elementar.
Vemos muitas crianças da água, das matas, das praias, alguns caboclinhos e caboclinhas, etc.
Seus nomes simbólicos normalmente no diminutivo, dificilmente traduzem sua essência original, mas isso é totalmente desnecessário, pois para a pureza não é necessária a tradução.
Alguns ainda pertencem ao estágio encantado da evolução, normalmente os que se apresentam por nomes simbólicos ligados a falanges ou mesmo a elementos da natureza, como: Pedrinha, Coquinho, Ventinho, etc.
Trabalham brincando e brincam trabalhando. Quando solicitados, são excelentes guias de trabalho e atendimento, ótimos curadores e fantásticos orientadores espirituais. Quem nunca se sentiu também criança de frente a uma manifestação dessa linha. E quem melhor senão nossa “criança interior” para ouvir e captar conselhos dados por outra “criança”.
Não subestimemos esse irmãozinhos do astral e cultuemo-los, e oferendamo-os sempre que necessário ou mesmo por agradecimento.
O sincretismo se dá ao fato de as crianças no culto de nação, estarem ligadas ao Orixá Ibeji, que são dois irmãos gêmeos. Como os santos católicos Cosme e Damião, irmãos gêmeos e médicos, que pereceram decapitados, porque praticavam a medicina gratuitamente em socorro dos pobres e das crianças infelizes e abandonadas. São protetoras da Medicina e de todas as crianças do mundo, inclusive as desencarnadas que ainda não completaram o círculo dos renascimentos .
Oração a São Cosme & São Damião
São Cosme e São Damião, que por amor a Deus e ao próximo vos dedicastes
à cura do corpo e da alma de vossos semelhantes, abençoai os médicos
e farmacêuticos, medicai o meu corpo na doença e fortalecei a minha
alma contra a superstição e todas as práticas do mal. Que vossa
inocência e simplicidade acompanhem e protejam todas as nossas crianças.
Que a alegria da consciência tranqüila, que sempre vos acompanhou,
repouse também em meu coração. Que a vossa proteção, São Cosme e São
Damião conserve meu coração simples e sincero, para que sirvam também
para mim as palavras de Jesus: “Deixai vir a mim os pequeninos, pois
deles é o Reino dos Céus “.
São Cosme e São Damião rogai por nós..
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