segunda-feira, 27 de junho de 2011

CANTOS E TOQUES NA UMBANDA


POR SEVERINO SENA.

RESUMO DA AULA DADA PELO OGÃ SEVERINO SENA AOS ALUNOS DO CURSO DE

DOUTRINA, TEOLOGIA E SACERDÓCIO DO COLÉGIO DE UMBANDA PAI BENEDITO DE

ARUANDA NO DIA 8 DE JUNHO DE 2011.

Severino iniciou sua aula dizendo que é muito gostoso falar sobre os toques e os cantos e que ali estava para falar da função do Ogã e da curimba.

Ogã: dentro da casa ele é o segundo poder. O primeiro poder é o dirigente da casa de Umbanda e o Ogã sempre vai tocar o que é determinado pelo dirigente. Dependendo do dirigente os pontos são diferentes já que os mesmos são direcionados ao guia-chefe do mesmo. No caso daqui, por exemplo, onde temos Pai Rubens, Mãe Alzira e muitos pais pequenos que aqui trabalham, eu,Severino, como Ogã toco para todos eles, mas o primeiro canto sempre é direcionado ao comando da casa e depois ao comando daquele dia específico de trabalho.
Tenho que estar afinado com o Senhor Arranca-Toco, Senhor Pena Verde e outros guias espirituais que estão no comando.
Desde o início dos trabalhos, abertura, defumação, etc., o Ogã deve direcionar o canto para a
linha que vai trabalhar naquele dia.
Existem várias formas de se trabalhar nas diferentes casas de Umbanda. O Ogã está lá para cantar e tocar o ponto certo para movimentar energias dentro daquele trabalho.

O conjunto são três atabaques e seus nomes foram herdados do culto de nação.

São três atabaques de tamanhos e sons diferentes. O maior chama-se Rum e tem o som mais grave. O médio chama-se Rumpi e o menor deles, com o som agudo chama-se Lê (que é igual a mi). O número de atabaques pode variar de casa em casa, mas existe uma ordem porque cada um deles possui a sua afinação, mas o comando está no Rum. Então podemos afirmar que o Rum é o atabaque direcionado ao comando.

Saudação aos Atabaques: Também existe uma hierarquia ao se fazer a saudação aos atabaques.
Primeiro fazemos a saudação ao Rum, logo após o Rumpi e por último saúda-se o Lê.

Todo Ogã é considerado um pai no Centro de Umbanda. Todos os cantos, todos os toques são importantes no trabalho, desde a abertura até o encerramento dos trabalhos. Para ilustrar a importância do Ogã a vocês, devo dizer que o mesmo está sempre observando tudo, do início ao encerramento dos trabalhos e isto é uma de suas funções para que tudo transcorra dentro da mais perfeita ordem, harmonia, de acordo com o dirigente da casa.
Vou citar um exemplo: - No início de um trabalho desta casa notei um irmão que estava no meio dos
médiuns presentes e me causou certo incômodo e, sem que eu dissesse nada, já na defumação a Mãe Alzira se dirigiu a ele e o retirou da gira porque estava alcoolizado.

O Ogã tem o poder de levantar ou de acabar com um trabalho.

Palmas: podem ajudar “pra caramba” e atrapalhar “pra dedéu”. Se estiver somente cantando, as palmas ajudam, às vezes, porém com o atabaque as palmas atrapalham porque muitas pessoas juntas, sem educação musical possuem ritmos diferentes e podem comprometer o trabalho do Ogã.

O Ogã tem que estar ligado a tudo que acontece durante os trabalhos, por isso mesmo ele encontra-se num piso um pouco mais elevado e vai observando tudo que se passa.

Eu pessoalmente prefiro que cantem e dancem e eu mantenho o tempo musical.

O Ogã deve ter noção, desde a abertura e defumação do tamanho do terreiro, pois, para se defumar algumas pessoas ele necessita apenas de um canto, mas para se defumar duzentas, trezentas, quatrocentas pessoas como aqui, ele deve ter mais de um canto, porém todos eles devem seguir o mesmo toque. Pode-se mudar o toque na hora que a defumação sair da linha dos médiuns para os assistentes.

Tem dirigente que gosta de cantos lentos, outros de cantos mais rápidos e o Ogã deve sempre seguir essa preferência do dirigente porque quem manda é ele, o dono da casa.

O ritmo muda de dirigente para dirigente.

O Ogã tem que estar alinhado com os guias do dirigente e isso tem que ter endereço certo para chegar onde se deseja chegar. Todos os pontos são direcionados em cima de acontecimentos e o Ogã movimenta energia do primeiro ao último trabalho, cantando para Senhor Arranca Toco,Senhor Ogum Beira Mar, etc.

Existe uma grande diferença entre tocar atabaque e bater atabaque. Vemos muitas pessoas que ficam feridas e mal após “bater atabaque”. Por ignorância não observam a altura do mesmo e batem, literalmente com as mãos nos ferros ou na madeira e se ferem. Outro ponto a observar é que pessoas muito altas têm que ficar tortas, curvas para tirarem som dos mesmos e dizem depois que o trabalho estava “pesado” quando na realidade estavam mal posicionadas. Tudo é questão de aprendizagem. Observem a distância e a altura dos atabaques em relação ao Ogã.

Todo canto e toque são importantes porque têm poder de realização.

Para tocar atabaque observem:

1) Distância do atabaque

2) Altura do atabaque

3) Ogã: deve dosar as energias para chegar ao término dos trabalhos que duram por vezes mais de 3 horas.

O Ogã, normalmente, não é médium de incorporação, porém, na Umbanda, muitos terreiros são na casa das pessoas e os médiuns de incorporação tocam e depois incorporam e vão dar passes.

Outro aspecto do Ogã na Umbanda deve-se ao fato de que mulheres podem tocar. Em trabalhos de nação isso não é permitido. Por quê? São lendas e lendas e não sabemos ao certo a razão disto.

Tocamos diferentes toques para o mesmo Orixá. Na Umbanda temos, por exemplo, vários toques para Oxum. Tem música que é Ijexá e tem Congo também.

Em cima de cada toque temos uma variação imensa. Temos congo de ouro, congo nagô. O fato de se usar três atabaques dá uma variação maior ainda e os contra tempos devem ser feitos no mais agudo deles. Temos ainda toques bem determinados para mamãe Oxum na África e na Bahia, onde usam afoxé, que deve usar dois atabaques para ser bem correto. Temos na Bahia, nos “Filhos de Gandhi” o ritmo bem marcado com agogô.

O correto é que o Ogã estude porque ele é um médium também, diferente do incorporante e deve buscar informações para um melhor desempenho na sua função, mesmo porque tocar e cantar ao mesmo tempo não é fácil. Em centros de Umbanda, além de tocar, cantar e observar tudo que se passa no terreiro, o Ogã muitas vezes dá informações rotineiras durante os trabalhos.

Uma pergunta comum que recebo é a seguinte: - Como se descarrega um atabaque?

Não se descarrega um atabaque.

De acordo com o guia chefe da casa o atabaque pode ter firmeza nele, pode ter fitas, ponto riscado etc.

Curimba

Ao se montar uma curimba em um terreiro devemos distribuir muito bem as funções, inclusive para que nenhum dos componentes dela cheguem a um cansaço extremo. Um poderá apenas cantar, outro tocar, mas tudo adequado às necessidades e funções, sempre obedecendo à hierarquia. Existe um comando a seguir, sempre de acordo com o guia chefe do terreiro, os toques para abertura, defumação, um específico para o guia chefe que aqui, no caso é o Senhor Ogum Beira-mar. Somente após a incorporação dele é que os outros Oguns deverão ser incorporados. O mesmo deve acontecer na desincorporação, onde os médiuns devem ser os primeiros a desincorporar e o guia chefe o último.

Tem ponto para o guia chefe.

Tem ponto para a falange daquele guia chefe.

Tem ponto para se ajudar alguém necessitado, etc.

O dirigente deve saber como tocar um trabalho dentro de sua casa, então ele pode e deve fazer um curso de curimba.

Existe uma sequência padrão a ser seguida dentro dos terreiros, porém isso pode mudar de casa para casa. Temos por exemplo casas que não cantam ponto para se bater a cabeça, como aqui onde isso é feito no ponto de Oxalá. Existem outras que não tem um dia para se receber as crianças, algumas cantam sempre o Hino da Umbanda, outras, nem sempre. Enfim, existe uma gama imensa de variações dentro das tendas de Umbanda e devemos sempre respeitar as orientações do chefe do terreiro. Cada casa é um caso; preceitos, obrigações, bebidas (elementos).

Se forem montar uma curimba nos seus terreiros procurem colocar a pessoa mais qualificada para isso e não simplesmente quem não incorpora. É uma função muito importante, pois movimenta energia dentro do trabalho, como já foi dito aqui.

O Ogã dentro da Umbanda não tem iniciação. Eu, pessoalmente, tenho. A primeira pessoa que ensinou a mim, Severino, não teve curso.

Outra coisa importante que foi respondida: no caso de se ter visita no terreiro e a mesma

pedir para tocar o atabaque, o Ogã deve ser responsável e saber que não pode passar o seu

comando a alguém de fora, como já explicado, mas, eventualmente pode deixar que essa pessoa

cante ou toque o Lê, nunca o Rum que é o atabaque principal, o comando da curimba.

Encerramento

Pai Rubens encerrou a aula dizendo que é necessário ter todas as informações possíveis

sobre a nossa religião. Quem quiser conhecer mais a respeito de toques e canto na Umbanda pode

comprar o livro de Severino Sena ou frequentar seu curso.

Todas as religiões têm seu lado de “Magia do Som” como sua personalidade; temos então que ter

um entendimento do conjunto todo; quem toca, quem canta e para que serve o toque.

No início da Umbanda não havia toda essa parte musical muito desenvolvida, mesmo porque

Pai Zélio seguia uma orientação espírita, de acordo com sua formação.

Nós umbandistas devemos saber o que estamos fazendo e por que as coisas acontecem.

Devemos saber conversar e sustentar qualquer diálogo a respeito de nossa religião.

A religiosidade deve ser construída, pois ninguém nasce pronto. Tem que aprender, se

aperfeiçoar, porque isso faz parte de nossa evolução.

Texto enviado por: Vera Bueno.

E-mail: vlbmoraes@gmail.com

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